Se eu afirmar que o transporte coletivo no Brasil é péssimo, creio que a maioria dos leitores irá concordar. Principalmente aqueles que já estiverem em algum país do primeiro mundo.
Mas não compete a mim levantar uma discussão de como a infraestrutura do nosso país é ou deveria ser.
Ao invés disso, gostaria de abordar um certo comportamento das pessoas que o utilizam por aqui. Mais especificamente um dos mais sofríveis: ônibus.
Na minha opinião é possível definir dois tipos de comportamento dentro de um coletivo.
Imagine a situação: ônibus fora do horário de pico, com alguns assentos vagos. Você entra, escolhe qualquer um e se senta. Conforme o itinerário é seguido, mais pessoas vão entrando, e já não há mais lugares disponíveis.
Aí que entra um idoso, visivelmente acima da idade mínima que dá direito a gratuidade em transportes coletivos. Ele olha pelo ônibus e não vê nenhum assento desocupado. Nem mesmo aqueles sinalizados como preferenciais a gestantes, idosos e deficientes físicos. Sem alternativa, ele se segura como pode, expondo a nítida fragilidade de suas pernas.
Agora fica fácil entender do que estou falando, não é mesmo?
Sim, existem pessoas que, educadamente, se levantam e cedem lugar aos mais necessitados. Mas é triste dizer que estas pessoas são, pelo menos na minha cidade, exceção.
O que faz, então, a maioria?
Bom, dentro desse grupo é possível criar subgrupos, de acordo com a reação. Há aqueles que desviam o olhar, cientes do seu próprio egoísmo, aqueles que veem mas não enxergam, isto é, não acham nada de mais, e há aqueles que se quer dão conta de que há uma pessoa com limitações físicas, muito mais merecedora de um assento.
Bom, se você (felizmente) não precisa andar de ônibus, não tem como saber dessa situação. Ok, mas consegue imaginar, certo?
Aqui no Brasil, transporte público é visto como coisa de pobre. É compreensível, dada sua precariedade. Mas volto a dizer: não vou entrar em questões políticas, até porque sempre as odiei.
O que quero salientar é que, pelo menos no Japão, a proporção dos dois grupos supracitados é justamente inversa.
Bom, se for pensar, é de se esperar que, no país com a maior população de idosos do mundo, eles recebam um tratamento mais respeitoso. Em outras palavras, lá é cultural ceder o lugar às inúmeras velhinhas e velhinhos que usufruem do transporte público, seja ônibus, metrô, trem... o que for.
Nunca estive na Europa, mas imagino que lá e em outros países mais civilizados, isto também faça parte do comportamento considerado padrão.
Há quem possa argumentar que este tipo de atitude, de ignorar a presença de idosos ou necessitados, seja típico da população com menor nível de instrução.
E quisera eu poder concordar. Talvez seria menos pior.
A realidade é que inúmeros estudantes de classe média, teoricamente com um nível socioeconômico mais alto, também agem da mesmíssima maneira. Talvez pensem "ah, por que eu, que estou pagando pra andar nesse ônibus, vou ter que ceder meu lugar pra alguém que anda de graça?".
Hm... difícil comparar o Brasil com o Japão. Virtualmente impossível em certos aspectos.
Mas quem sabe... quem sabe este texto conscientize pelo menos uma pessoa que se encaixa no segundo grupo?
Eu já ficaria muito satisfeito.
:)
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