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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Kanten - Ponto de vista - O Japão ontem e hoje

A Aileen me mandou essa foto que retrata uma realidade cruel do Japão "moderno":


Pois é.

Os bravos samurais, guerreiros conhecidos mundialmente como símbolos de coragem, lealdade, respeito, disciplina, honra... enfim, uma amálgama de qualidades viris, infelizmente deram lugar a jovens com cabelo artificial, sobrancelha fina, depilados a laser e que têm coragem de sair numa foto com o dedo na boca!!

Fico feliz que o Toshirō Mifune já faleceu, pois ele não merecia presenciar todo esse processo de efeminização dos jovens nipônicos que, na minha opinião, fere a honra da nação e descaracteriza um povo com características tão marcantes.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Kanten - Ponto de vista - 6 de agosto de 1945, 8:15 AM

Você sabe o que a data de hoje representa no Japão?

Bom, tenho certeza que todos já ouviram falar da bomba atômica de Hiroshima, que foi lançada no dia 6 de agosto de 1945, às 8:15 da manhã, e acabou matando cerca de 250 mil pessoas ao longo das décadas seguintes.



Se for pensar em termos globais, e fazer um levantamento de quantos milhões de pessoas morreram durante a Segunda Guerra, 250 mil não parece tanto. Mas digamos que é um caso à parte na história da nossa civilização, uma enorme mancha que não será apagada enquanto alguém habitar esse planeta.

Eu, particularmente, tive o privilégio de morar na província de Hiroshima (embora não na cidade propriamente dita), e pude sentir de perto o quanto essa catástrofe ainda assombra seus habitantes, mesmo após quase seis décadas.

Também não é por menos. O que até então era considerado inimaginável foi executado com "perfeição" pelos americanos, e não apenas uma, mas duas vezes.

Claro que, por outro lado, a política expansionista do Japão havia cometido suas atrocidades aos montes, principalmente contra coreanos e chineses, depois em Pearl Harbor. Se for olhar detalhadamente, e lembrar que os soldados japoneses enterravam prisioneiros coreanos vivos, faziam decapitações em praças públicas, obrigavam prisioneiros a trabalho forçado numa temperatura de inverno siberiano, entre tantas outras coisas desumanas, há quem possa dizer: "Eles mereceram."

Prisioneiro coreano e soldado japonês


É, é complicado analisar. Mas é inevitável pensar que, apesar de tantos atos de horror, será que faz algum sentido milhares de civis pagarem com as próprias vidas por algo que os militares provocaram?

Restos mortais encontrados na década de 50

No Museu da Paz, que visitei três vezes (e pretendo visitar mais), há objetos absolutamente chocantes, como o triciclo todo contorcido:


Ou então o pedaço da calçada onde sentava um homem, que foi simplesmente desintegrado pela explosão:


Apenas a sombra

E muitas imagens também, que deixam os visitantes de primeira viagem totalmente horrorizados:
Momentos após a explosão


Li, certa vez, que muitos se refugiaram em uma igreja católica, mas o teto desabou e matou todos.

Aliás, no raio de 1,5 km, não sobrou muita coisa em pé. Quase nada, na verdade.

O prédio abaixo, que até então era uma biblioteca pública, foi uma das poucas exceções. Curiosamente, ele se localiza bem próximo ao local da explosão (que ocorreu a 580 metros de altura).

Ali diz que nenhuma das muitas pessoas que estavam dentro sobreviveu.


Hoje, o local é conhecido como 「原爆(げんばく)ドーム」. 「原爆」 vem de 「原子爆弾(げんしばくだん), "bomba atômica", e 「ドーム do inglês "dome", "cúpula" em português.

Desde 1996 o, Genbaku Dome é patrimônio da humanidade certificado pela Unesco, como símbolo da paz.

Na escola, todo ano se fazia uma atividade relacionada a data de hoje, maneira que encontraram para conscientizar os jovens sobre os horrores da guerra. Chegava até a ser cansativo, pois tínhamos que escrever redações expondo nossos pontos de vista, sempre com alguma mensagem de repúdio aos acontecimentos do passado.

O triste é pensar que o ser humano continua - e com certeza continuará - matando uns aos outros, nas mais diversas proporções.

Mesmo assim, eu considero importante que o Japão nunca economize esforços para conservar os valores adquiridos com seus próprios erros, e que continue a mostrar sua faceta tão peculiar para o resto do mundo.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Kanten - Ponto de vista - Número de assassinatos no Japão aumenta 8,4%

O número de assassinatos no Japão em 2008 aumentou 8,4% em relação ao ano anterior, indo para 1.300.

Para se ter uma idéia, na cidade do Rio de Janeiro, em 2008, foram registradas 36 mortes para cada 100 mil habitantes. Considerando que a população é de aproximados 6,1 milhões, isso nos dá algo em torno de 2200 casos.

Ao todo, no Brasil, em 2006, foram registrados 46.600 casos. Lembrando que a população brasileira é mais ou menos 50% maior que a japonesa.


É... sabe o que é necessário para ter fé no Brasil?

Ser alienado.


Link: Yahoo! Japan

sábado, 27 de junho de 2009

Kanten - Ponto de vista - Poder psicológico de uma música

Volto a falar sobre o quarteto que mais gosto do Japão, Mr.Children.

As letras escritas pelo vocalista e compositor Sakurai são famosas por vários motivos.

Primeiro porque contam com um vocabulário riquíssimo, que inclusive foi minha fonte de aprendizado durante anos.

Segundo pela ousadia. Ao mesmo tempo que expressa o amor de forma poética em muitas canções, em outras usa termos pouco usuais para letras de música, como "serial-killer", "camisinha", "namoro que cheira mijo" (mijo mesmo, não miojo!) e até "Doraemon"!

Mas a música que lhes apresento a seguir ficou infame. Por um simples motivo: muitas pessoas estavam a escutando antes de cometer suicídio. Sim, mais ou menos o que ocorreu com a controversa Suicide Solution do Ozzy Osbourne.

De maneira totalmente oposta a já comentada Owarinaki Tabi, que é pura motivação pessoal, esta Surrender, como o próprio título sugere, fala de desilusão amorosa de uma forma extrema, poucas vezes vista no mundo musical. Eu diria que é ainda mais depressiva que Creep, do Radiohead.

Bom, segue o vídeo, mas não vou traduzir a letra por ser muito pesada. Mas quem quiser pode Googlar que é facilmente encontrada.



Nossa, é deprê demais.

Ah sim, desde que a notícia foi veiculada, eles nunca mais tocaram essa música nos shows.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Kanten - Ponto de vista - AKIRA

Você já ouviu falar em AKIRA?

Bom, se não sabe se estou me referindo a uma pessoa, filme, música etc., é bem provável que você nunca tenha lido a obra-prima do desenhista Katsuhiro Otomo:

Sim, trata-se de uma história em quadrinhos, ou seja, mangá, mas não apenas "um" mangá, e sim O mangá.

Você gosta da nova safra de quadrinhos japoneses, que se popularizou mundialmente na década passada?

Agradeça a AKIRA:


Admira a técnica aplicada nos desenhos que, mesmo em preto e branco, impressionam pela riqueza de detalhes?


Agradeça a Katsuhiro Otomo:

Quando é jogada a pergunta "Qual a melhor série de quadrinhos de todos os tempos?" cá no ocidente, cria-se um debate entre fãs de duas obras-primas incontestáveis:

"The Dark Knight Returns", de Frank Miller,

e "Watchmen", de Alan Moore.

Mas no Japão não.

AKIRA é unânime.

Publicado no período de 1982 a 1990 no mangá semanal Young Magazine, a série foi posteriormente compilada em 6 volumes, além de ganhar uma versão cinematográfica em 1988:

Meu primeiro contato com Tetsuo, Kaneda e cia. (dois dos personagens principais) foi justamente através do filme, ainda na minha infância. Lembro que fiquei ao mesmo tempo chocado, impressionado, extasiado, incrédulo. Nunca tinha visto uma animação desenhada tão perfeitamente, com tantos detalhes, cores tão vivas e tamanha dose de violência.

Encontrei, por acaso, o vídeo abaixo, que reúne algumas cenas do longa ao som da música Welcome to the Machine, do Pink Floyd. Embora não tenha nenhuma ligação, o som futurístico da faixa se encaixa assustadoramente bem com o clima sinistro do filme:


Sou muito fã das animações em 3D, principalmente dos da Pixar, que sempre nos surpreende com sua criatividade. Mas se pensarmos que Otomo foi capaz de proporcionar tanta adrenalina e emoção à base de desenhos feitos à mão, sem as técnicas e recursos hoje disponíveis, mais uma vez nos damos conta da magnitude de sua proeza.

Mas há quem critique o filme. Não do ponto de vista técnico, claro, mas as inevitáveis modificações que a história sofreu durante o processo de "condensação" em duas horas filme não agradou a todos.

Eu, particularmente, achei (e ainda acho) o filme espetacular, e só fui entender o porquê da crítica quando finalmente pude ler a versão, digamos, autêntica dos quadrinhos.



Não é exagero algum dizer que os quadrinhos de AKIRA figuram entre os itens essenciais para quem queira conhecer a cultura do Japão pós-guerra.

Sem sua menção, é como querer falar da história da música clássica sem citar Händel, por exemplo.

Se você ainda acha que é demagogia da minha parte, sugiro que leia e tire suas próprias conclusões.

Assim que mergulhar na Neo-Tóquio, num Japão pós-Terceira Guerra Mundial, vai entender o que quero dizer. :)


Lembrando ainda que haverá uma nova adaptação para filme, mas com atores de Hollywood. Há rumores de que o ator principal (equivalente ao Kaneda) será o DiCaprio.

Mas só em 2011...

Para mais, acesse o imdb.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Kanten (観点)- Ponto de vista - Receita para a vida

Ontem estive em uma palestra de um professor da USP, Clóvis de Barros Filho, que falou sobre "A Vida que Vale a Pena ser Vivida".

Foi talvez a melhor palestra da qual já participei. Não que tenha participado de muitas, mas o conteúdo foi tão consistente quanto engraçado, algo que muitos palestrantes buscam mas não conseguem, principalmente quando o tema é ligado a filosofia, como o caso.

Inclusive, na saída, ouvi uma moça dizendo "Dei mais risada do que quando vim assistir ao (humorista) Danilo Gentili!".

Naturalmente, não vou arriscar fazer uma resenha sobre o tema da palestra, já que meu talento como crítico de assuntos filosóficos não está (e talvez nunca estará) muito aguçado hoje (e talvez nem amanhã).

Mas uma coisa que ele disse, talvez uma das principais, me chamou muita atenção: de que não há uma fórmula para viver e ser feliz. Cada um precisa encontrar o seu jeito de viver, independentemente do que os demais pensam.

No momento em que ele disse isso, me veio à cabeça a letra de uma música do Mr.Children, chamada Owarinaki Tabi, que numa tradução livre, seria "Viagem sem fim".

A letra dela é extremamente motivadora, perfeita para se escutar em momentos de decepção, angústia, desilusão, medo... enfim. Em especial, trecho que se identifica com as palavras do professor Clóvis diz:


(だれ)真似(まね)すんな、君(きみ)は君でいい

"Não imite ninguém, você tem que ser você mesmo(a)"

(い)きるためのレシピなんてない、ないさ

"Não existe nenhum tipo de receita para viver"


Recomendo que escutem a música. As frases acima aparecem aos 3:50:

sábado, 30 de maio de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Made in Japan

"MADE IN JAPAN"


O que vem à sua cabeça quando vê isso escrito?

Sony
? Toshiba? Panasonic? ...pato-fu?!?

Bom... para mim, particularmente, vem o disco do Deep Purple, de 1972:


Naturalmente, leva este nome por ter sido gravado inteiramente em solo japonês, ao longo de 3 apresentações no mês de agosto (portanto em um calor infernal) nas cidades de Tóquio e Osaka.

Existem algumas curiosidades em torno deste disco. Uma delas vem do lendário tecladista Jon Lord, que disse, em uma entrevista:

"A princípio estávamos receosos quanto a gravações ao vivo, mas decidimos tentar mesmo assim. É óbvio que, quando escutamos, fomos todos surpreendidos pela qualidade do material!".

É aí que está a ironia: um disco quase despretensioso acabou se tornando sério candidato ao título de melhor disco ao vivo de todos os tempos, ao lado de Live at Leeds do Who, talvez.

E o mais incrível: a gravação não conta com overdubbing ou edições de estúdio que corrigem pequenas (ou grandes) imperfeições. Ou seja, toda a fúria da banda é transmitida in natura através de performances que, segundo o vocalista Ian Gillan, nunca mais voltaram a se repetir.

Caso ainda não conheçam, fica minha recomendação para que todos os amantes da boa música, especialmente do chamado classic rock, gastem 1 horinha de suas vidas para escutar esta obra-prima do som pesado!


...eu sei, eu sei, eu sempre me empolgo quando começo a escrever sobre música! :)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - O Japão da perspectiva de um chinês, parte 3

Terceira e última parte:


Certo dia, uma amiga veio ao Japão a trabalho e pediu que eu a acompanhasse a um shopping para comprar roupas.

Como era de se esperar, passou-se um bom tempo até ela encontrar algo que lhe agradasse, quando virou para mim e perguntou:

"Por que o local de fabricação está sempre escrito em inglês?"

Eu, que já estava cansado, respondi:

"Deve ser algo importado do exterior ou exportado do Japão!"

Mas quando chegou em casa e olhou melhor, encontrou uma etiqueta escrito "Made in China". Ela ficou aos prantos, pois havia economizado dinheiro comendo macarrão instantâneo durante dias só para comprar roupas japonesas e acabou levando um produto chinês!

Eu não pensei duas vezes e disse:

"Vamos devolver!"

E ela:

"Tem como devolver? Com a justificativa de que é chinês?"

"Hmm... Quanto a isso... Vamos dizer que está pequena!"

Sem um argumento convincente, voltamos a loja, e eu, com meu japonês capenga, me esforcei o máximo para explicar a situação. Estava até tremendo de nervosismo. Mas então a vendedora disse, sorrindo:

"Não há problema algum, senhor.
Se o produto não é do seu agrado, aceitamos a devolução agora mesmo!"

E me devolveu o dinheiro. Após isso, nos acompanhou até a saída da loja e disse:

"Muito obrigada!",

ao mesmo tempo que abaixava a cabeça.

Porém, minha amiga ficou com um certo remorso e disse:

"Vamos olhar a loja de novo? Pode ser que tenha algo que eu goste."

Voltamos, então, ao interior da loja, e a mesma funcionária nos recepcionou novamente, curvando-se como fizera antes. Sob seu olhar atencioso, procuramos por alguma outra peça de roupa, até que minha amiga se decidiu e comprou uma blusa, agora com etiqueta "Made in Japan".


Bom, eu não entendo de moda, mas reconheço que as roupas fabricadas lá são, de fato, muito bonitas. Mas mesmo assim não sei se vale o sacrifício de passar dias a fio comendo Kinojo!

Mas claro, o que mais chama atenção é o tratamento dado ao casal chinês. É muito diferente do que estamos acostumados a receber por aqui, é outro padrão de atendimento.

E olha que não se trata de uma loja de elite, já que ela se submeteu a uma dieta de macarrão instantâneo para comprar uma peça de roupa!

Pois é, mas no Japão é assim. Tratam os clientes como reis, mas sem pegar no pé.

Diferente daqui, que quando perguntamos:

"Oi, você tem um número maior?"

recebemos a resposta/pergunta:

"Qual o seu nome? ^_^"

(Retirado da Terça Insana!)

リンク: <在日中国人のブログ>礼儀正しい日本の社会 - 速報:@niftyニュース.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - O Japão da perspectiva de um chinês, parte 2

Em certo dia de chuva, entrei no metrô lotado com o guarda-chuva pingando. Fui andando entre as pessoas e, sem querer, a ponta do guarda-chuva enroscou na roupa de alguém e entortou uma das hastes. Quando eu ia falar algo, a pessoa se antecipou e disse:

"Me desculpe, minha roupa se enroscou no seu guarda-chuva!".

Eu não consegui dizer nada. Se a pessoa viesse reclamando, com certeza teria virado uma discussão. Mas não, ela se desculpou antes! Não só se desculpou, mas agiu como se ela estivesse errada! Eu não tive como responder.

Logo após, enrosquei o guarda-chuva novamente, em outra pessoa. E dessa vez também ela disse "Perdão" e até me cumprimentou levemente. Eu fiquei meio envergonhado e respondi com um rápido "Me desculpe".

Nesse momento, o garoto que estava ao meu lado me disse:

"Tio, basta você andar com ele fechado e dobrado!"

Olhei pra ele e pensei:

"Dobrar? Tá dizendo para eu deixar o guarda-chuva bonitinho
toda vez que for entrar no metrô?"

Sem se importar com o meu olhar gelado, ele acrescentou:

"Olha tio, todo mundo anda com ele dobrado!
Assim não incomoda os outros, não é mesmo?"

E me mostrou seu guarda-chuva:
Olhei ao redor e... Não é que era verdade? Todos se dão o trabalho de fechar o guarda-chuva para não incomodar os demais!

Desde então me disciplinei a fazer o mesmo.


Coisa simples, não?
Senso de coletividade: "Não vou incomodar os outros que nada têm a ver com a minha preguiça!"

E claro, o fato das pessoas se anteciparem em pedir desculpas demonstra o quão civilizadas elas são.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - O Japão da perspectiva de um chinês, parte 1

Acabo de ler um artigo que chamou muito minha atenção, e resolvi compartilhar. Como é meio extenso, vou dividir em três partes para facilitar a leitura.

De fato são três episódios diferentes mesmo.

É autoria de um chinês que mora no Japão, conta como ele se surpreendeu com a educação nipônica:


Logo que cheguei ao Japão, o trabalho me cansava muito, o que me fazia sempre querer voltar sentado no metrô para casa. Assim que ele chegasse na plataforma, procurava por um lugar vazio de maneira desesperada, e no momento em que a porta abria, entrava correndo, sem me importar se havia pessoas na fila ou descendo do metrô.

Fazendo isso sempre conseguia garantir um lugar e me sentar.

Mas certo dia parei e pensei:

"Por que nunca tem ninguém disputando lugar comigo?
Quando vou entrando, todos me dão passagem, sem se quer desorganizar a fila!"

Certo dia, havia uma longa fila na plataforma, e no metrô, apenas um assento vago. A porta se abriu e de imediato corri para garantir meu lugar, aproveitando da lentidão de um concorrente que o disputava comigo.

Mas quando olhei bem... era um idoso. Devia ter a idade do meu avô. Levantei-me lentamente, sob o olhar de todos os passageiros do vagão. O senhorzinho me agradeceu várias vezes. Eu, meio sem jeito, rapidamente me retirei para o vagão da frente.

Nesse dia decidi esperar pelo metrô na fila, como todos.


Bom, essa é a primeira parte.
Alguma semelhança com o que ocorre por aqui?

É, aqui as pessoas também entram desesperadas por lugares vazios no ônibus.
A diferença é que a maioria está pouco se lixando se há algum idoso em pé.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Tirando carteira de habilitação no Japão

Que o trânsito brasileiro é um caos todos sabem.

Não estou falando de congestionamento ou ruas esburacadas, e sim dos motoristas barbeiros. Garanto que se eu postar aqui:

"Descreva uma barbeiragem que você viu recentemente",

vão surgir respostas em grandes quantidades e variedades.

Por que tanta selvageria no volante, hein? Bom, com certeza existem várias explicações, mas uma das mais evidentes é que tirar habilitação para carro no Brasil é muito fácil.

Por acaso, hoje uma professora nativa do Japão comentou sobre carteira de motorista e o assunto se desenvolveu. Aí aos poucos fui lembrando das diferenças entre ser considerado apto a dirigir lá e aqui.

Assim como em vários outros países, no Japão existe uma habilitação própria para carros manuais e outra para automáticos. E naturalmente existe uma prova de conhecimentos e outra de direção propriamente dita.

Mas o que ficou mais comum hoje em dia é fazer um curso de direção em alguma auto-escola autorizada e obter o certificado de aprovação, que elimina a necessidade de fazer a prova prática.

Funciona da seguinte maneira:

Na primeira etapa, são no mínimo 10 horas-aula de noções básicas de direção e um pouco de prática, dentro do pátio da escola, como na foto:


Já na primeira etapa há uma avaliação de habilidade.

Basicamente, você percorre o circuito interno com o fiscal ao lado e dois outros alunos no banco de trás. Inicialmente possui 100 pontos, de onde são feito deduções em caso de infrações, se houver. Conseguindo terminar com 70 pontos ou mais, está aprovado.

Ok, após aprovado no exame prático, vem o de conhecimentos: 30 minutos para responder 50 questões objetivas.

Nota mínima para aprovação? 45.

Aí finalmente você adquire a carteira provisória, que dá o direito de treinar em vias públicas, desde que acompanhado por um fiscal ao lado, e com a placa "Carteira Provisória - Em treinamento" anexada ao carro:



Na segunda etapa, há até teste em autoestradas!

E olhem só: se não for permitido correr acima de 60 km/h em alguma autoestrada, essa parte é feita em um simulador:



Bom, aí há aulas de primeiro-socorros etc. e nova avaliação prática e escrita.

Aí sim, se aprovado, finalmente é concedida a carteira de habilitação.

Ah, claro que tudo isso tem um custo, né?

Acabo de Googlar quanto está custando tirar habilitação B no Brasil, e parece que varia desde R$800 a R$1.200.

Acha caro? Eu acho.

Mas tem idéia de quanto se gasta lá no Japão?


De 250.000 a 300.000 ienes ao longo do processo,

o que equivale a

5.400 a 6.500 reais.


Antes que alguém diga "Ah, mas lá se ganha bem mais!", saibam que de maneira alguma 300 mil ienes é considerado pouco.

Os pais de família de onde eu morava (lê-se: classe média) tinham uma renda média mensal de mais ou menos isso.

Ou seja, lá o investimento é realmente alto, assim como o nível do preparo que é dado pelas auto-escolas e o rigor com que são feitas as avaliações.

Isso tudo aliado ao respeito mútuo que existe por natureza entre as pessoas resulta em um trânsito seguro e civilizado, ao contrário do Brasil, onde a falta de seriedade se traduz em milhares (senão milhões) de motoristas irresponsáveis que constroem estatísticas assustadoras de mortes por atropelamento, colisões, capotamento etc.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Bonita demais

Veja a foto dessa moça:



O que você diz sobre ela?

"Muito bonita!", "Simpática!", "Belo sorriso!", "Ela atuou em qual filme?", "Miss Japão?" poderiam ser alguns dos comentários.

Mas se for apenas um rostinho bonito, não há nada de surpreendente, certo?

E se eu disser que ela não é modelo, não é atriz e também não é cantora, mas sim política?

Isso mesmo.

O jornal espanhol 20 Minutos realizou uma votação on-line para eleger a política mais bonita do mundo. A parlamentar Yuri Fujikawa, 29 anos, foi a mais lembrada entre os internautas e se consagrou a número 1 do mundo político.

Desde que seu site oficial ficou inacessível por excesso de visitantes, em janeiro do ano passado, é crescente o número de fãs que a chamam de "Bonita demais".


Aliás, "Bonita demais" virou praticamente um sinônimo do nome da jovem política que, em resposta, disse:

- "Não há como não ficar contente ao ser chamada de bonita demais".

Mas o artigo prossegue:

É crescente o número de mulheres chamadas de "bonitas demais".

No entanto, ao contrário do que se pode imaginar, nem todas elas concordam com Yuri. Afinal, demais significa exceder o ideal, o que implica em dificuldade de encontrar parceiros, segundo empresas especializadas em relacionamentos amorosos.

Dizem que beleza em excesso acaba inibindo os homens, que temem ser trocados pela "concorrência acirrada".


Deve ser mais ou menos o que a nossa Dilma sente!


リンク: 「美人すぎる」女性ブーム 市議、公認会計士、バレーボール選手… - 速報:@niftyニュース.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - O Efeito Playback Chinês

Vocês se lembram da garotinha que "cantou" na cerimônia de abertura dos Jogos de Pequim, no ano passado?


Pois então.
Após sua brilhante performance em playback, a pequena Lin Miaokè, de 9 anos de idade, teve uma ascensão meteórica ao estrelato, atuando em diversos comerciais de TV.

Recentemente foi escolhida para a propaganda de uma grande rede de eletro-eletrônicos, com o cachê de 8 milhões de yuans (aproximadamente 2,5 milhões de reais), superando os valores pagos a atrizes veteranas, em rumo ao status de atriz mais bem paga do país.

Bom... que ela realmente é uma graça de menina ninguém questiona, mas... se as Olimpíadas fossem em agosto desse ano de 2009, a pequena Yang Peiyi (abaixo) com certeza teria outro destino.


Sabe quem me dá tanta certeza assim?

Susan Boyle.


sábado, 2 de maio de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Música no Japão

Música no Japão é algo complicado de se entender.

Talvez a fusão do alto poder aquisitivo com o espírito consumista desenvolvido nas últimas décadas seja uma das razões pela qual praticamente todos os gêneros fazem sucesso por lá. Do J-Pop ao Heavy Metal, todos artistas parecem ter direito a um espaço nas preferências dos nipônicos, como uma espécie de Big Apple. Até mesmo os incontáveis artistas descartáveis que se proliferam incessantemente chegam a conquistar seus 15 minutos de fama.

Se por um lado a Enka, música tradicional que representa ao Japão o que o MPB representa ao Brasil, vem perdendo espaço para jovens artistas do pop e rock, com seus refrões cada vez mais recheados de frases em inglês, pode-se dizer que a adoração a artistas consagrados do chamado Classic Rock permanece, felizmente, intacta.

Experimente espalhar um boato que será lançado um disco dos Beatles com músicas inéditas recentemente descobertas. Ou então que o Deep Purple vai tocar em Tóquio com sua formação clássica! Ou ainda que Roger Waters, David Gilmour e Nick Mason vão fazer uma homenagem a Rick Wright, no Tokyo Dome! Vai ser um alvoroço.

Outro ponto que chama atenção do cenário musical japonês é a popularidade de guitarristas virtuosos como Yngwie Malmsteen, Steve Vai, Joe Satriani, Marty Friedman e, em especial, Paul Gilbert, de quem gostaria de falar.

Talvez você nunca tenha ouvido falar dele, mas sua popularidade no Japão é imensa, até maior do que nos EUA, sua terra natal. Tanto é que já morou em Tóquio por um tempo, e sua esposa, Emi Gilbert, é japonesa.

Pōru Girubāto, como é conhecido por lá, é dono de um senso de humor bastante peculiar, o que o destaca entre os chamados "super-guitarristas".

Eu tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente em 2001, quando passou por Londrina em sua turnê solo, Guitar Clinic. O ponto alto da apresentação foi a música 2 Become 1, das Spice Girls, em que ele encaixa os solos de Sweat Leaf , do Black Sabbath, e Stairway to Heaven (de não sei quem).

Ah sim, depois houve ainda uma sessão de autógrafos e aperto de mão!

Bom, deixo para vocês um vídeo conhecidíssimo do Paul na época do Mr.Big (que aliás voltou à ativa esse ano!), tocando no "santuário" Budōkan:



De tirar o fôlego ou não?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Medidas ecológicas e criativas do governo japonês

O governo japonês anunciou, no último dia 21, um programa de incentivo à compra de produtos domésticos com baixo consumo de energia.

O programa funciona da seguinte maneira: a partir de 15/05, o consumidor que adquirir ar-condicionados, geladeiras e TVs digitais que economizem mais energia que um mínimo estabelecido, ganhará os chamados Eco Points, que poderão ser convertidos em produtos e serviços.

Na compra de ar-condicionados e geladeiras que atendam às especificações do programa, 5% do preço será convertido em Eco Points; já para as TVs digitais a taxa é de 10%.


Interessante, não?
Por que não fazem isso com automóveis também, para inibir a compra dos beberrões que fazem 4 km por litro de gasolina?

Artigo original: clique aqui.

sábado, 25 de abril de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Consumo de cigarro no Japão

Se você vibrou com a nova lei anti-tabagismo que proíbe cigarro dentro de ambientes fechados em São Paulo, mesmo não sendo Paulistano, considere-se do meu time.

Mas talvez você se assuste um pouco com esse post.

Por quê? Porque segundo a 日本たばこ協会, Associação de Cigarros do Japão, a quantidade de cigarros vendidos em solo japonês em 2008 foi 4,9% menor que o ano anterior, completando 10 anos consecutivos de queda.

Opa, mas então é uma notícia boa!

...depende. A queda de 4,9% em relação a 2007 representa sabe quantos cigarros, aproximadamente?

13 bilhões.

Sim, isso mesmo. Fazendo, então, uma regra de três simples, chega-se à quantidade de cigarros vendidos em 2008:

245,8 bilhões.

É mole?

Mas vamos mais adiante.
A população japonesa é de estimados 127 milhões de pessoas, das quais 103 milhões são adultas (acima de 20 anos).

Calcula-se que 26,3% da população adulta seja fumante. Isto nos dá 26,8 milhões de consumidores de cigarro.

Ou seja?

Em média, cada fumante consome 9179 cigarros por ano, o que equivale a 25 cigarros por dia.

É... será que é um povo estressado?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Sex appeal nem tão sexy

Muito por acaso (por acaso mesmo!) encontrei uma enquete que me chamou a atenção.

Seguinte: perguntaram para jovens japoneses (entende-se: homens nativos, não descendentes) quais ações eles já tomaram para atrair o olhar feminino. Em outras palavras, o que eles já fizeram para parecer cool diante de uma moça de quem estão afim.

Antes de ver o resultado da enquete, pensem: se fosse aqui no Brasil, quais seriam as respostas?

Talvez...

"Bebi mais que todo mundo da festa!"
"Saí pela cidade com um somzão bombando!"
"Andei dentro do shopping com meu Ray-Ban!"

...ou coisas "animaaaais" do tipo.

Mas enfim, vejamos quais foram as respostas dos nipônicos:


10º lugar:
"Deixei meu casaco aberto e fui andando contra o vento"

9º:
"Dobrei a manga da camisa um pouco mais para exibir meus braços"

8º:
"Tirei ou afrouxei a gravata para dar um ar de 'largado'"

7º:
"Fiquei salientando que varei a noite anterior (trabalhando)"

6º:
"Carreguei a bolsa na altura do ombro"

5º:
"Fiz um olhar distante"

4º:
"Fiquei contando as coisas que aprontei no passado"

3º:
"Deixei a camisa aberta até o segundo botão"

2º:
"Cantei uma canção de amor com toda força"

1º:
"Coloquei a mão no encosto do passageiro ao manobrar de ré"

Fonte: clique aqui.

É...
Curioso, não? Coisas que para nós parecem ser detalhes tão discretos, para eles são ferramentas para fisgar atenção feminina!

E deduz-se que as moças não apenas notam tais detalhes como os valorizam, ou seja, essas pequenas ações devem funcionar de alguma maneira!

Hmm...
Para a minha próxima ida ao Japão, vou treinando meu olhar distante, sem esquecer de dobrar bem as mangas da camisa e afrouxar a gravata... cantando You're the Inspiration como um louco, enquanto faço baliza com uma mão só.


Update: corrigi o título. Tinha escrito "Sexy appeal"... dãr. Postar algo de madrugada geralmente resulta nisso.

sábado, 18 de abril de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Ninjas e samurais na visão dos europeus

Acabei de ler um artigo muito interessante e gostaria de compartilhar com vocês.

Intitulado "O Japão mal-compreendido pelo exterior", ele fala um pouco da imagem distorcida que os estrangeiros ainda têm em relação ao país do Sol nascente:



Dias atrás, um senador americano criticou o CEO da seguradora AIG dizendo: "Ele deve seguir o exemplo dos japoneses: se desculpar ao povo americano, e após isso renunciar ao cargo ou se matar. Assim, até eu posso pensar em perdoá-lo".

Pelo raciocínio "Espelhe-se nos japoneses e se mate bravamente", percebe-se que os europeus ainda possuem uma idéia errônea sobre o povo japonês. O autor do livro "Coletânea de piadas sobre o Japão mundo afora" (não disponível em português) Takashi Hayasaka conta seus relatos:

"Quando estava na França, um rapaz de 20 e poucos anos me abordou e perguntou:

'No Japão ainda existem ninjas, certo?'
.

Mesmo com a minha negação, ele insistiu, dizendo:

'Você acha que não existem porque eles moram escondidos nas montanhas!'
.

Interpretei isto como um pensamento típico de um francês fã de ninjas. Tanto é que na Universidade de Nice, existe até um grupo chamado 'Clube dos Ninjas'!"

"Ainda, os europeus ficam admirados quando jogadores como Ichirō e Matsui fazem homerun e percorrem as bases sem qualquer comemoração. Aí que reafirmam: 'Eles são mesmo samurais...!'"

"Baseado na imagem de 'país da tecnologia', na Romênia me pediram:

'Conserta meu walkman?', 'Arruma meu carro?'.

Quando neguei dizendo que não era especialista em tecnologia, disseram 'Ahh você é chinês, então?'.

"Em outra ocasião, me pediram:

'Você pode fazer sushi na festa que vou fazer em casa?'

e ficaram espantados quando expliquei que amadores como eu não sabem fazer sushi. Para eles, sushi é uma comida simples do cotidiano japonês. Ainda, os leste-europeus acreditam que todos japoneses são mestres na arte do Karatê."

Vamos tomar cuidado nas viagens ao exterior.



Quem quiser ler o artigo original e na íntegra (me senti obrigado a pular uma parte!), clique aqui.

Bom, na Romênia eu até entendo... Mas na França?! Um país do G-7?!

Imagina o que devem pensar do Brasil, então?
Deve ser que nem minha coleguinha de 4ª série do Japão que me perguntou:

"No Brasil tem ruas asfaltadas que nem aqui?"

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Reflexo da crise na Golden Week

O que vem a ser Golden Week?

Para os japoneses, talvez a semana mais esperada do ano.

E o motivo é simples: trata-se de um feriado prolongado, entre o final de abril e começo de maio.

As datas celebradas são:

・ 29/04: Dia de Shōwa (em homenagem ao Imperador da era passada)

・ 03/05: Dia da Constituição

・ 04/05: Dia do Verde (tradução literal que não fica boa. Dia da Natureza, talvez?)

・ 05/05: Dia das Crianças

Ou seja, nesse ano de 2009, eles terão do dia 29 de abril (quarta) a 4 de maio (terça) para descansar (ou não).

Recentemente houve uma alteração nessas datas, mas não vou entrar em detalhes, porque sinceramente... é chato.

O importante é o seguinte:

Caso o Dia da Constituição ou Dia das Crianças caia em um domingo (como foi no ano passado), o dia posterior ao Dia das Crianças torna-se feriado como compensação. Assim ninguém sai perdendo!

É, talvez a economia do país (talvez não, com certeza!), mas quem se importa com isso em pleno feriado?

Por aqui nós nos ferramos no ano passado, não é mesmo? Será que não tem como criar uma lei pró-compensação de feriados?

Mas... no Japão também nem tudo é um mar de rosas.

Segundo o Yahoo! Japan, algumas empresas vão dar dispensa de até 16 dias para seus funcionários. O que em tempos normais significaria uma semana mais que dourada, no atual cenário econômico passa a ser um dado pra lá de assustador.

"...por falta de trabalho, são muitos os empregados de diversas empresas que irão ganhar até 16 dias de folga na Golden Week. A gravidade da crise mundial chega a esse ponto."

É...
Golden Week mas nem tanto, não?

Desejo muita sorte aos brasileiros que estão lá e suas famílias.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista - Mestre Kurosawa

Final de semana praticamente sem posts.

Hmm... como que pretendo aumentar o número de acessos do meu blog sem conteúdo novo?
Tsc, tsc...

Então hoje decidi falar sobre um filme que muito provavelmente a maioria dos meus leitores não assistiu. Mas quero que assistam.

Estou me referindo à última obra do mestre Kurosawa, まだだよ /ma.da.da.'yo/. Felizmente o título em português não recebeu nenhuma tradução esdrúxula, e permanece Madadayo.

Foi lançado em 1993, 5 anos antes do falecimento do maior diretor da história japonesa. Para quem acha que estou exagerando nos elogios, eis o comentário feito na revista Veja, edição de 8 de abril, página 127:

"...é impossível adivinhar que lugar o Japão teria no mapa cultural do século XX sem Kurosawa."

Sem dúvidas.

Desde os anos 50, Kurosawa influenciou (e continua influenciando, claro) uma legião de diretores hollywoodianos, entre eles os conhecidíssimos Steven Spielberg e George Lucas. O pai da saga Star Wars, em especial, expressou sua admiração pelo colega japonês de maneira bem explícita, incorporando vários elementos orientais à sua obra.

Aqui um exemplo que compara o filme A Fortaleza Escondida (隠(かく)し砦(とりで)の三悪人(さんあくにん)) com cenas de Su.tā_Wō.zu (sim, é assim que é pronunciado no Japão).



Aliás, sabe de onde George Lucas tirou o nome Jedi? Da palavra Jidaigeki (時代劇), que são as peças de época, geralmente da era Edo.

Mas voltando ao Madadayo, trata da história de um professor aposentado, que pela sabedoria e senso de humor conquistou a admiração e respeito de duas gerações de alunos, sendo que a primeira já está na faixa dos 40 anos.

A direção do mestre dispensa comentários. O cenário pós-guerra, a fotografia, o roteiro... tudo de altíssimo nível.

É interessante observar que alguns aspectos da cultura permanecem iguais ou mudaram muito pouco, e olha que estou falando de comportamentos dos anos 40!

Eu já havia assistido a este filme enquanto morava no Japão, mas naquela ocasião não percebi em alguns detalhes curiosos.

Um deles é o seguinte: na primeira festa de aniversário do sensei, logo após o término da 2ª guerra, está escrito o kanji numa faixa em homenagem. Porém, 16 anos depois, na 17ª festa, este mesmo kanji se transformou em .

O que acontece é que, nesse meio tempo, surgiu na China a simplificação dos ideogramas. Atualmente, o chinês tradicional ainda utiliza 會, mas no simplificado e no japonês, apenas 会.

Não digo que Madadayo está entre os melhores filmes de Kurosawa, afinal é bem diferente do gênero que o consagrou (por favor não me pergunte qual!). Mas com certeza é um filme muito bonito, tanto de ponto de vista cultural quanto cinematográfico.

Recomendo a todos, principalmente àqueles que assistiram Sonhos e se perderam no meio das viagens surrealistas.