Depois de mais um hiato no blog, cá estou de volta.
Mas percebi que estou meio
sem inspiração... É engraçado, pois ao mesmo tempo que sei que existe uma
infinidade de conteúdo para ser abordado, neste momento não me vem algo que me
empolgue e me faça querer fazer um post.
Então decidi escrever sobre uma coisa que
não está diretamente relacionada ao aprendizado do idioma em si, mas que queria escrever há certo tempo.
Quem acompanha o blog desde antes da minha viagem, em maio, deve se lembrar dos posts intitulados
"Lost in Translation", certo? Pois é, eu tirei este título do filme homônimo, de 2003, dirigido pela
Sofia Coppolla e estrelado por
Bill Murray e a sempre linda e maravilhosa
Scarlett Johansson (ah sim, no Brasil, ele se chama
"Encontros e Desencontros").
Eu fui assistir ao filme no cinema, 7 anos atrás, e desde então, devo ter
reassistido umas 5 vezes. Isso, cinco vezes mesmo, sendo uma delas no mês retrasado, enquanto estava no Japão.
Mas por que gosto
tanto desse filme? Bom, há dois... ou três motivos claros: o filme é
muito bom, pois consegue ser
romântico sem ser açucarado, e ao mesmo tempo, engraçado; é o filme que projetou a Scarlett - então com
19 anos - ao estrelato, e pra variar ela esteve exuberante; e o principal: se passa em...?
Sim, em
Tōkyō.
Eu sempre fui meio apaixonado pela capital japonesa, mesmo antes de ir para o Japão pela primeira vez, em
1993. Talvez por influência do eterno
super-herói Jaspion, de quem era grande fã (como
muita gente da minha geração). Sempre que via as imagens da metrópole, ainda nos anos
80, sentia uma
enorme vontade de conhecê-la (ainda bem que ninguém me disse que só em
2010 isso iria se concretizar!).
Durante os 5 anos em que vivi na região de
Hiroshima, não pude viajar pra antiga cidade de
Edo. Por quê? Simples, porque era caro, e eu era um
pré-adolescente sem renda própria. O jeito foi
conter a vontade de conhecer
Shibuya,
Shinjuku,
Ginza etc.
Muito tempo depois disso, quando assisti ao filme pela primeira vez, fiquei novamente
encantado com a cidade, com os seus
milhões de pessoas, suas
luzes, sua
barulheira e tudo mais. Foi assim que me
determinei a voltar para o Japão e matar a antiga vontade de conhecer sua capital.
É, foram-se
anos até que isso realmente acontecesse, mas quando soube da minha aprovação da bolsa de estágio, de imediato tracei alguns objetivos, e talvez
o maior deles fosse...
...conhecer o
Park Hyatt Tōkyō, onde se passam várias cenas do filme. Mais precisamente, queria de qualquer jeito visitar o
New York Bar, que fica no
52º andar do luxuoso hotel 5 estrelas.
E foi engraçado, pois desde o começo do período do estágio, em maio deste ano,
enchi o saco dos meus colegas bolsistas, pra que me acompanhassem nesse passeio, mas por incrível que pareça,
nenhum deles havia assistido ao filme! Além disso,
ninguém estava disposto a gastar uma
pequena fortuna só pra me acompanhar a matar minha curiosidade.
O tempo foi passando, e quando percebi, já era
final de julho, faltando pouco tempo para voltar ao Brasil! Começou a bater um desespero, porque sabia que, se eu não fosse,
certamente iria me arrepender.
Acabei deixando para a
última semana, no começo de agosto, quando me dei um
ultimato:
"Pode ser até sozinho, mas eu vou". E foi
exatamente isso o que aconteceu! Na
véspera de vir embora, sem sequer ter
arrumado as malas, peguei o trem e parti rumo a Shinjuku,
sozinho.
Recomendo que, neste momento, aperte
play no clipe abaixo, é a música de encerramento do filme,
"Just Like Honey", da banda escocesa
The Jesus & Mary Chain:
Bom, continuando, cheguei ao hotel em uma van fretada pelo próprio hotel: ela recolhe clientes na frente da estação e deixa na entrada do Park Hyatt, sem cobrar absolutamente
nada!
Eis a "cara" dele, por fora:
Entrei meio desnorteado, pra ser sincero. O lugar é
tão bonito que, de certo modo, chega a ser
intimidante. Confiram abaixo:
As fotos parecem de um portfólio, eu sei, mas fui eu mesmo que tirei!
Sem demorar, até porque eu não tinha muito tempo disponível, procurei pelo
New York Bar, e logo descobri que tinha que subir dois lances de elevador. E não por acaso, um deles parecia ter
só estrangeiros (inclusive
eu, mas eu passo "
camuflado").
Ok, e assim que cheguei ao topo do prédio, me deparo com a seguinte vista:
Que é isso, não? É pra lá de deslumbrante! Assim que tirei esta foto, pensei comigo:
"Já valeu a pena ter vindo".Logo depois, uma hostess me perguntou se eu estava sozinho, me avisou da "pequena" taxa de couvert de
¥2200 (da qual eu já tinha ciência) e me conduziu ao balcão, ao
célebre balcão, do
tão desejado (pelo menos por mim) New York Bar.
Eu mal conseguia acreditar que
finalmente estava ali, no mesmo lugar em que a
Scarlett Johansson esteve! Estava sentado no mesmo balcão onde
ela e Bill Murray contracenaram!
...o ruim de estar sozinho, nessas horas, é
não poder expressar os sentimentos. Eu podia estar eufórico por dentro, mas considerando o ambiente, tinha que manter a sobriedade!
Mas nem por isso deixei de tirar algumas fotos:
É, bem que eu queria que fosse a mesma banda do filme, que toca
"Parsley, Sage, Rosemary and Thyme", de Simon & Garfunkel. Mas o quarteto era
muito bom, e fui "presenteado" com
"What a Wonderful World", assim que cheguei.
Abri o cardápio e procurei pela bebida feita
em homenagem ao filme (sim,
até isso eu já sabia), mas não encontrei. Olhei de novo com mais atenção e encontrei:
"L.I.T."Hah, nada mais lógico:
"Lost In Translation". Apesar do precinho salgado, de ¥1700, pedi sem hesitar. E não me arrependi; apesar de ser mais voltado para o paladar feminino, achei muito bom.
Este foi o momento em que me decepcionei ao descobrir que não existia
conexão wi-fi. Mas nada que estragasse este meu passeio; posso dizer que estava quase
delirando naquele ambiente.
Enquanto estava lá, digitei meu pensamento:
"Parece que ninguém entendeu por que eu queria tanto conhecer este lugar", e de fato, continuo sentindo que poucas pessoas entendem. Mas para mim é muito simples: é pura questão de
paixão.
Eu sou uma pessoa que
detesta muitas coisas (muitas coisas
mesmo!), mas tenho uma
paixão enorme por outras.
Filmes e
música, não necessariamente nesta ordem, são dois exemplos. Por isso, procuro aproveitar ao máximo os
raros momentos em que estes
se unem de maneira tão harmônica como em Lost in Translation, mesmo que isso resulte em
passar a noite em claro arrumando a mala até às
7 da manhã, para depois encarar uma viagem de
6 voos e mais de
30 horas!