O Japão passa por um momento delicado. Foi novamente esta a afirmação do professor do curso que concluí hoje.
Mas não é de hoje que a economia japonesa anda mal das pernas; na verdade, aqui existe a expressão "Os 20 Anos Perdidos", ou até 25, dependendo do autor. Refere-se à desaceleração do crescimento econômico observada desde o final dos anos 80, período em que, ironicamente, começou a crescer o número de dekasseguis brasileiros em solo nipônico. Os mais pessimistas (ou realistas) falam em 25 porque consideram que a situação atual deve continuar pelo menos até 2015.
Não é difícil entender o problema que o Japão enfrenta. Claro, existem muitos fatores sobre os quais eu não tenho o menor conhecimento, mas vou tentar expor o pouco que sei, de maneira bem simplificada.
A taxa de natalidade (出産率、しゅっさんりつ) do país, embora tenha demonstrado pequenos crescimentos nos últimos anos, mal tem sido suficiente para manter a população (que está na casa dos 127 milhões). Isto, somado a uma das expectativas de vida mais altas do mundo, resulta em...?
Queda da população total, com maior participação de idosos. Isto não seria tão ruim se o Japão não fosse um país tão próspero como é. Epa, como assim?
É simples: após a Segunda Guerra Mundial, o Japão conseguiu se reconstruir de uma maneira bastante homogênea, o que resultou em uma sociedade economicamente nivelada, sem grandes desigualdades ou concentrações de renda.
O reflexo deste processo é justamente o que se vive hoje, pois as empresas nacionais, que foram os pilares do crescimento sem precedentes, não têm mais como se expandir dentro do próprio país. Afinal, todo mundo tem de tudo; a prova disso é a quantidade de produtos supérfluos que são jogados no mercado, numa tentativa de encontrar novos nichos.
A saída óbvia para este processo natural (pelo qual o Brasil não vai passar tão cedo, daí a enorme expectativa a nível mundial) seria a internacionalização de empresas de médio porte (ou mesmo grande porte) que ainda se limitam ao mercado interno. No entanto, além da concorrência que tende a ficar cada mais acirrada com a inclusão de países emergentes, como - principalmente - China, Coréia do Sul, Vietnã, Cingapura etc., há a relutância japonesa de explorar novos mercados no exterior.
Não fica muito claro o motivo disto, mas talvez um deles seja a dificuldade com a comunicação com países estrangeiros. Enquanto empresas coreanas como a Samsung, por exemplo, enviam seus funcionários para os quatro cantos do planeta, com um único objetivo, o de aprender sobre a cultura local e assim poder adaptar seus produtos aos costumes nativos, (processo conhecido como Glocalization), o Japão parece estar de braços cruzados e vendo os possíveis futuros líderes de mercado ganhando cada vez mais espaço.
De uma maneira mais objetiva, o professor de hoje disse que a projeção para daqui a 10 anos é que cada segmento do mercado japonês tenha apenas duas ou três grandes empresas. Por exemplo, no setor automobilístico, provavelmente ficariam (ou ficarão?) a Toyota, Honda e Nissan (ou Mitsubishi), com as demais sendo compradas ou mesmo falindo.
Eis o que acontece por aqui, de uma maneira bem superficial. Pra mim, foi extremamente interessante poder entender este fenômeno, que assombra o Japão há tanto tempo, de uma perspectiva interna; embora ela não seja nem um pouco animadora.
3 comentários:
Que coisa irônica. Quanto mais o Japão cresce, mais ele se afunda.
Cara, isso me assuta? Nivelamento social afeta o consumo (me corrija se entendi errado). Eu já sabia que o capitalismo era aplacante e motor, mas assim...kowai o.o
Eles falam em 25 anos porque há uma expectativa de que entre 2011 e 2012 o mundo passe por uma nova dificuldade financeira, não tão séria quanto 2007/8 mas preocupante. Já há estudos de algumas agências sobre isso.
Estranho o aumento da oferta de empregos para decasseguis aqui no Brasil, tenho conhecidos por aí dizendo que a coisa não anda muito bem ainda...
Aliás, qual é a visão do lado japonês para essa oferta de emprego para estrangeiros? Como anda a taxa de desemprego japonesa?
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