Mas é o seguinte: eu não sou nem um pouco preconceituoso, em primeiro lugar. Eu abomino qualquer forma de preconceito, e posso dizer que já vi muitos casos de preconceito, tanto no Brasil quanto no Japão.
Vou contar uma dessas experiências: quando estudava no Japão, na minha sala, tinha um menino com uma leve dificuldade motora nas pernas, e parece que isso afetava sua coordenação de um modo geral. Ele era capaz de andar, ainda que com o auxílio de um dispositivo mecânico (bem parecido com o que o Forrest Gump usava na infância), mas tinha uma estatura bem abaixo da média, e frequentava uma turma especial, destinada a alunos com necessidades especiais.
Desde o início, ele sofria muito preconceito, tanto por parte dos meninos quanto das meninas (na verdade, elas eram piores, diga-se de passagem), mas eu fui um dos poucos, senão o único, que eram capazes de tratá-lo sem discriminação. Por mim, eu não fazia nada de extraordinário, até que um dia minha professora me agradeceu pela minha postura em relação a ele. Foi aí que eu percebi que o que eu considerava absolutamente normal, óbvio, podia não ser para as outras pessoas. Dito isso, vamos voltar ao contexto do post.
O que eu devia ter deixado claro é que concordo que nenhuma generalização é 100% válida, e que naturalmente eu sei que se por um lado existem brasileiros que cometem uma diversidade de crimes no Japão, chegando a atrocidades como a desse caso, por outro existem muitos que são totalmente corretos, educados e civilizados.
A questão é: para os japoneses que não têm contato direto com brasileiros - que devem representar 99% da população -, qual será a impressão que fica? A reação mais natural como ser humano não seria, no mínimo, receio? Como eles vão saber que muitos brasileiros são pessoas idôneas, se aparecem tantas vezes na mídia por causa de delitos?
É inevitável que se crie uma imagem ruim, da mesma maneira que, por exemplo, nos EUA, depois de 11 de setembro, os muçulmanos passaram a ser associados com terrorismo, mesmo que quase sempre isso não seja verdade. Ou seja, no Japão, alguns poucos brasileiros de mau caráter agem como perfeitos idiotas e quem acaba pagando por isso são...?
Sim, nós, os brasileiros de bom caráter que nada temos a ver com essa minoria deplorável. Isso não causa indignação? Claro que causa. Posso não ter deixado claro, mas o que eu temo, e não quero que aconteça de maneira alguma, é justamente isso: que os brasileiros passem ser vistos como um mal para a sociedade japonesa em função de poucos mal-intencionados. Mas infelizmente isso já pode estar acontecendo.
Muito se diz sobre orgulho de ser brasileiro, porque brasileiro é isso, brasileiro é aquilo, porque nosso país é assim, é assado... Eu não sou dessa opinião. Os patriotas que me perdoem, mas não vejo sentido em se dizer orgulhoso de um país simplesmente porque nasceu nele. Para mim, o que é realmente importante não é ter orgulho do país, e sim de você mesmo, de ser o que você é na essência: um ser humano. Isso significa dar valor às virtudes que nos caracterizam como seres racionais, aos valores universais que transcendem a barreira da nacionalidade, religião, cor da pele, opção sexual etc.
Respeitar o próximo, ser solidário, aceitar diferenças, ser leal à família... são essas coisas que realmente valem e contribuem para que uma pessoa se sinta orgulhosa, e não porque seu país tem - ou supostamente tem - uma paisagem bonita, um clima abençoado, uma economia forte ou seja o que for. Mas essa é minha opinião, e ninguém precisa concordar comigo.
Para finalizar, digo o seguinte: antes de dizer que tem orgulho do seu país, faça com que você sinta orgulho de si mesmo(a). Não como cidadão ou profissional, mas como pessoa! :)
Gabriel Ueda
7 comentários:
Concordo com o que você disse sobre ter orgulho do brasil.
Eu não consigo ter orgulho de um país que matar,roubar estão virando coisas normais, que um criminoso não pega uma pena boa. Meus amigos falam que eu odeio o brasil, mas eu só vejo um país que eles não conseguem enchegar.
Olá! Eu li seu post anterior r este, até comentei com meu marido - que está no Japão - como a justiça pode funcionar de verdade! As leis brasileiras tem tantas lacunas que acabam beneficiando os mais afortunados.
Educação vem de berço, é o que eu sempre ouvi desde criança. Se nós brasileiros tivéssemos pais mais rigorosos o país seria bem melhor e a imagem lá fora também! Não adianta os filhos fazerem coisas erradas e os pais passarem a mão na cabeça deles e dizerm "coitadinho de fulaninho". Dá uma raiva isso! Como uma pessoa vai se construir corretamente se faz coisa errada e ainda é chamado de coitado?! E dependendo dos pais, ainda ganham presentes caros! Me revolta certas atitudes que alguns pais tomam perante os erros dos filhos.
Eu concordo com seu post atual, aconteceria o mesmo receio se tivece sido um japonês no Brasil matando Brasileiros...com uma diferença: talvez ele saísse do país sem punição.
Bye bye....adoro ler seu blog!
Óbvio que existem muitos brasileiros,sem decendência alguma nipônica,brasileiros bem quixotescos,se casando com japonesas/japoneses,e vão pra la,no sonho de garantir vida fácil,mesmo sem saber ao menos como comprar alguma coisa,esperando o idioma entrar por osmose.Eu vejo se repetir o que aconteceu a 102 anos atrás,quando os primeiros japoneses,decorrente dos problemas que o Japão estava enfrentando,os obrigaram a sonhar com uma vida aqui,trabalhar um ou dois anos,e voltar para a terra natal,e por que aceitaram a proposta ? Na época,circulava uma escritura,chamada de "relatório Suguimura",na qual descrevia apenas coisas boas sobre o Brasil,e começaram vir os japoneses para um lugar de tradições e comidas,tudo diferente.Pelo tempo que eu ja estudo a imigração japonesa,os livros que eu li,me recordo apenas de dois contratempos que os japoneses causaram no Brasil,que foram a Shindo Renmei,e um caso de assassinato.
O mesmo esta acontecendo,é o caso dos "dekasseguis".Esse tipo de gente,que vai para o país estrangeiro "badernar",não vai preso,e acabou,ele leva junto uma nação,e mais junto ainda,pessoas sonhadoras que sonham um dia visitar tal país,seje para visitar,ou trabalhar.
Não podemos crucificar esse coitado,mesmo ele tendo fujido,pois creio que não seje nada fácil uma pessoa ocidental no meio de orientais,querendo ou não,um ou outro tem preconceito,é fato inevitável.Acredito que o ocorrido,não foi por querer,e o ato de fujir,foi por medo ou vergonha.Mas enfim,não devemos pensar nos erros dos outros,devemos olhar o nosso caminho e não tropeçar nas pedras que terceiros ja tropeçaram,essa é minha opnião pra relevar coisas como esta.
Belas palavras Gabriel san !
Mata ne!
そうですね!
僕は日本へ行きたいけど、日本はちがい国。だから、ちがくやらなくちゃね!
ブラジルではダメの事は平城になってるから 僕もブラジルをダメに見てるよ。
olá! cheguei neste blog através do seu post "morar no japão é...", e acabei lendo as últimas postagens também.
engraçado você comentar sobre medo do preconceito por parte dos japoneses, pois acho que isso já existe no brasil, mesmo com nisseis e sanseis. moro numa cidade (suzano, sp) que possui uma colônia nipônica bem forte por aqui, e uma coisa comum que já ouvi são os descendentes falando mal dos brasileiros e do brasil, sendo que ELES MESMOS são brasileiros. eu simplesmente tinha vontade de perguntar: "então por que você não vai pro japão? o que está fazendo aqui?". estou muuito longe de ser patriota, e concordo com a sua opinião a respeito disso neste post. por outro lado, a minha visão é de que independente de acidentes trágicos como esse, são os japoneses é que normalmente são preconceituosos e que têm de rever seus conceitos. sou mestiça: meu pai é nissei, e minha mãe, brasileira, e ela já ouviu muita besteira dos parentes do meu pai. meu namorado, por ser de cor, já foi maltratado num restaurante em que fomos juntos na liberdade, e sempre que andamos no bairro recebemos olhares de reprovação. procuramos não nos importar, e não é isso que vai nos fazer não comer comida japonesa (que nós A-DO-RA-MOS!). mas o fato de a palavra "gaijin" ser mais um pejorativo do que sinalizar que alguém é "estrangeiro" não é por acaso. (http://en.wikipedia.org/wiki/Gaijin) e se for nordestino, negro, pobre, muçulmano, pior ainda. muitos japoneses JÁ NÃO VÊEM os brasileiros com bons olhos, principalmente as gerações mais velhas. não é à toa que ainda é tão comum que descendentes só se casem com descendentes, mesmo em outros países.
também não quero generalizar aqui, mas essas coisas marcam. e eu gostaria mesmo de saber a ORIGEM disso, se vem da época da guerra, ou de quando os japoneses começaram a imigrar pra cá. fico muito com a minha experiência pessoal disso a partir das pessoas não-descendentes com quem convivo, e isso sempre me revolta e chateia.
e se é verdade que tem muito brasileiro penando no japão porque uns poucos fazem essas bobagens, então há de se conversar e mostrar que um ato isolado não configura um julgamento para os semelhantes. (e isso vale pra mim também, pra não ficar com receito toda vez que entro num estabelecimento administrado por nipônicos e descendentes).
fico por aqui, já que falei demais pra um primeiro comentário! XP
Recentemente estive no Brasil por 2 semanas e fiquei a maior parte do tempo em Suzano, onde nasci e como a c. akemi citou, uma cidade onde habitam muitos nikkeis. Mesmo a cidade tendo muitos nikkeis confesso que senti bem mais preconceito que aqui no Japão. Fui em uma esfiharia com alguns amigos e jantando um pessoal de outra mesa grita: "abre o zóio japonês!". Fiquei quieto e nem liguei. No outro dia saindo de um restaurante e no caminho para o carro encontro com um grupo também que começou a caçoar dizendo alguns "palavrões" em japonês.
Hoje teve um comentário com alguns conhecidos falando sobre o "ijime". Que aqui no Japão estrangeiro na escola sofre muito por causa do preconceito. Mas isso no Brasil também não acontece? E até perguntei. No Brasil você nunca sofreu ijime por ser nikkei? Alguns responderam que sim. E lembro que no primário eu era o único nikkei da sala e por isso era motivo de gozação. Piadas de japonês rolava solta na sala.
Hoje estava apresentando a cidade de Hamamatsu para uma jornalista do Brasil que veio cobrir o Mundial de Vôlei. Passamos por vários lugares e ela comentou: "Antes de vir aqui (pro Japão), tinha uma imagem que o povo japonês é muito preconceituoso, no Brasil se fala muito disso. Mas vejo que os japoneses tratam os estrangeiros muito bem e tem muita educação.
Parece que muitos tem a imagem de que somente o povo japonês é preconceituoso e o brasileiro não. Sem generalizar, isso acontece em vários lugares do mundo.
Sobre a notícia, tem gente que fala que a mídia japonesa caiu em cima pois o acusado é brasileiro e tal... Só para reforcar, acompanhei esse caso desde o começo e o cara estava fugindo da polícia pois estava dirigindo um carro roubado, sem carta e eles tinham saído de noite para roubar GPS de carro.
eu morei no japão três anos , não tive problemas com preconceito , no começo foi dificil
porque não estava acostumado
com a mentalidade nipônica , procurei me adaptar e respeitar seus habitos,
não foi facíl mas vi que em tudo
tinha sentido , e muitos brasileiros não respeitava esses habitos causando constrangimento
á outros brasileiros , temos que entender e respeitar os habitos locais para podermos viver em harmonia .
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