terça-feira, 18 de maio de 2010

Conhecendo o orientador

No primeiro dia após as orientações iniciais e palestras sobre a cultura, política e economia do Japão, já tinha sido agendado um horário para que eu me encontrasse com o meu orientador de estágio. A maioria do pessoal do grupo, composto por 24 sul-americanos, participou de um intensivão de nihongo, com duração de dois dias, mas felizmente eu fui poupado!

Nesse primeiro dia, uma funcionária da JICA, chamada Shimizu-san, me acompanhou até a Tokyo City University, que gentilmente decidiu me acolher como estagiário. Me disseram para estar às 8:30 da manhã na estação mais próxima, onde cheguei um pouco antes, por volta das 8:15. Confirmando a famosa pontualidade japonesa, ela chegou uns dois minutos antes do horário combinado. Este é um ponto muito importante: desrespeitar o horário aqui é um enorme desrespeito à pessoa, portanto é bom tomar cuidado!

A universidade fica em um bairro nobre da capital japonesa. Claro, não é uma Ginza (銀座、ぎんざ), onde o metro quadrado comercial pode chegar a U$100.000 (isso mesmo, cem mil dólares o m²!), mas mesmo assim tem uma quantidade incomum de carros importados, principalmente Audi, BMW e Mercedes.

A própria Shimizu-san ficou meio impressionada com as casas, que para os padrões japoneses são relativamente grandes. Disse que cada uma deve custar mais de 一億円(いちおくえん), o que dá cerca de U$1.087.000 na cotação atual. Lembrando: 一億 é mil vezes 万 (que é 10 mil), ou seja, 100 milhões.

Ainda no caminho, perguntei à minha guia se os japoneses não têm muito costume de usar óculos escuros (na verdade perguntei mesmo o motivo, pois é bem raro ver pessoas usando, principalmente homens). Ela disse que realmente não é muito comum, e quando perguntei por quê, disse: "Talvez porque as pessoas não querem ficar com marca de sol em volta dos olhos". Pensei "Ahn?!", mas falei o tradicional 『あぁ、そうですか。』, como aquilo fizesse algum sentido!

Chegando na universidade, por fora o campus não tinha nada de surpreendente; os espaços entre os prédios era estreito, como quase todas as construções do país.

Fomos até a recepção e nos apresentamos para a secretária do departamento de engenharia, que nos conduziu até uma sala onde o meu orientador, Kaneko-sensei, iria nos receber. Até aí, nada de diferente, mas a formalidade com que isso ocorreu deve deixar a maioria dos brasileiros surpresa, talvez até um pouco incomodada. Confesso que eu, mesmo já tendo ciência dessa peculiaridade japonesa, fiquei um tanto quanto tenso.

Às 10 em ponto, o professor apareceu. Para a minha surpresa, ele é muito, muito diferente do estereótipo dos, digamos, japoneses tradicionais. Por ter morado nos EUA, tem uma mente bem aberta, e tem ciência dos pontos positivos e negativos do Japão. Pelo pouco que conversei com ele, parece ser bastante orgulhoso de seu país; acredito que, depois de conhecer o exterior, passou a valorizar certas qualidades que são, de certo modo, exclusivas daqui.

Outra coisa que me chamou atenção é que ele estendeu sua mão para me cumprimentar, coisa que até então não tinha me acontecido! É até estranha a maneira como as pessoas interagem por aqui, pois se cumprimentam "à distância", sem qualquer tipo de contato físico. Mais um ponto que é bom ser lembrado para aqueles que vierem pra cá pela primeira vez: não saia dando tapinha nas costas de todo mundo, isso pode ser mal interpretado!

Logo após a "mini-cerimônia", fui levado para o laboratório e apresentado para os orientandos do Kaneko-sensei. Quando entrei no lab (onde estou nesse exato momento), levei um pequeno choque. Por enquanto vou ficar devendo uma foto daqui, mas vocês iriam facilmente entender o porquê. Em palavras simples, porque é uma zona. Um monte de mesas irregulares, cada uma com um computador e monitores diferentes, livros, bebidas (não alcoolicas), tênis, roupa, papel... de tudo um pouco.

Mas o mais interessante foi a maneira como eles se apresentaram. São todos pós-graduandos, mas de idades e anos diferentes, ou seja, há uma hierarquia muito bem definida e respeitada por todos. Estas características comportamentais não são novas pra mim, mas ficando 12 anos longe delas, é natural que eu tenha me desfamiliarizado. Logo decidiram que a autoapresentação começaria por baixo (usaram esse termo mesmo, 『(した)から』). Calma, não me interpretem mal; eles quiseram dizer que o mais novato seria o primeiro a se apresentar!

Foram todos muito amigáveis e simpáticos, e alguns ficaram meio surpresos com o fato de eu saber falar a língua deles. No final, claro, eu também tive que me apresentar segundo o padrão 『(はじ)めまして・・・よろしくお願(ねが)いします』.

Hoje já é o quarto dia de convívio com eles (cerca de 15 rapazes), mas continuo achando curiosa a maneira que interagem entre si, pois todos seguem o protocolo 先輩(せんぱい)後輩(こうはい)』, "veteranos-calouros", que é muito diferente do que vemos no Brasil. A própria linguagem é diferente quando um 後輩 se dirige a um 先輩; por exemplo, é obrigatório o uso de 『ですか?』 no final das perguntas, os verbos são usados na forma 『ます』, nunca pode faltar o tratamento 『さん』 etc.

Eu mesmo cheguei a participar dessa hierarquia no ginásio, mas esta é a primeira vez que vejo várias pessoas de níveis diferentes na mesma sala. Por mais que haja certa intimidade entre um veterano e calouro, esta regra é respeitada à risca. Para eles, isso é 『常識(じょうしき)』, o senso comum. Não é necessário ser ensinado nas escolas ou no trabalho; é algo inato do povo japonês.

Bom, já me prolonguei demais, mas ainda vou voltar a falar sobre 『』, pois é algo bem interessante e representa muito da cultura daqui.

Só para não dizer que não postei nenhuma foto, aqui vão três:

Landmark Tower, o prédio mais alto do Japão.


Foto que tirei ontem. Uma pequena parte do Minato Mirai.


A vista é bela de dia também.

4 comentários:

Rogério Lima 23 Japan disse...

Como sempre belas palavras sobre esse grande pais...Omedeto !!!

Kato Enterprising disse...

Saudades...
Faltou a foto daquela embarcação...

Lalita disse...

Qualéquié mano, se o lab é uma zona é que nem seu quarto! hahahaha Devia estar acostumado hehe

Anônimo disse...

E os shows que tem em yokohama? todo final de semana tem apresentacoes nas pracas.
aproveita e tira umas fotos de um kaiten sushi.