A universidade fica em um bairro nobre da capital japonesa. Claro, não é uma Ginza (銀座、ぎんざ), onde o metro quadrado comercial pode chegar a U$100.000 (isso mesmo, cem mil dólares o m²!), mas mesmo assim tem uma quantidade incomum de carros importados, principalmente Audi, BMW e Mercedes.
A própria Shimizu-san ficou meio impressionada com as casas, que para os padrões japoneses são relativamente grandes. Disse que cada uma deve custar mais de 一億円(いちおくえん), o que dá cerca de U$1.087.000 na cotação atual. Lembrando: 一億 é mil vezes 万 (que é 10 mil), ou seja, 100 milhões.
Ainda no caminho, perguntei à minha guia se os japoneses não têm muito costume de usar óculos escuros (na verdade perguntei mesmo o motivo, pois é bem raro ver pessoas usando, principalmente homens). Ela disse que realmente não é muito comum, e quando perguntei por quê, disse: "Talvez porque as pessoas não querem ficar com marca de sol em volta dos olhos". Pensei "Ahn?!", mas falei o tradicional 『あぁ、そうですか。』, como aquilo fizesse algum sentido!
Chegando na universidade, por fora o campus não tinha nada de surpreendente; os espaços entre os prédios era estreito, como quase todas as construções do país.
Fomos até a recepção e nos apresentamos para a secretária do departamento de engenharia, que nos conduziu até uma sala onde o meu orientador, Kaneko-sensei, iria nos receber. Até aí, nada de diferente, mas a formalidade com que isso ocorreu deve deixar a maioria dos brasileiros surpresa, talvez até um pouco incomodada. Confesso que eu, mesmo já tendo ciência dessa peculiaridade japonesa, fiquei um tanto quanto tenso.
Às 10 em ponto, o professor apareceu. Para a minha surpresa, ele é muito, muito diferente do estereótipo dos, digamos, japoneses tradicionais. Por ter morado nos EUA, tem uma mente bem aberta, e tem ciência dos pontos positivos e negativos do Japão. Pelo pouco que conversei com ele, parece ser bastante orgulhoso de seu país; acredito que, depois de conhecer o exterior, passou a valorizar certas qualidades que são, de certo modo, exclusivas daqui.
Outra coisa que me chamou atenção é que ele estendeu sua mão para me cumprimentar, coisa que até então não tinha me acontecido! É até estranha a maneira como as pessoas interagem por aqui, pois se cumprimentam "à distância", sem qualquer tipo de contato físico. Mais um ponto que é bom ser lembrado para aqueles que vierem pra cá pela primeira vez: não saia dando tapinha nas costas de todo mundo, isso pode ser mal interpretado!
Logo após a "mini-cerimônia", fui levado para o laboratório e apresentado para os orientandos do Kaneko-sensei. Quando entrei no lab (onde estou nesse exato momento), levei um pequeno choque. Por enquanto vou ficar devendo uma foto daqui, mas vocês iriam facilmente entender o porquê. Em palavras simples, porque é uma zona. Um monte de mesas irregulares, cada uma com um computador e monitores diferentes, livros, bebidas (não alcoolicas), tênis, roupa, papel... de tudo um pouco.
Mas o mais interessante foi a maneira como eles se apresentaram. São todos pós-graduandos, mas de idades e anos diferentes, ou seja, há uma hierarquia muito bem definida e respeitada por todos. Estas características comportamentais não são novas pra mim, mas ficando 12 anos longe delas, é natural que eu tenha me desfamiliarizado. Logo decidiram que a autoapresentação começaria por baixo (usaram esse termo mesmo, 『下(した)から』). Calma, não me interpretem mal; eles quiseram dizer que o mais novato seria o primeiro a se apresentar!
Foram todos muito amigáveis e simpáticos, e alguns ficaram meio surpresos com o fato de eu saber falar a língua deles. No final, claro, eu também tive que me apresentar segundo o padrão 『初(はじ)めまして・・・よろしくお願(ねが)いします』.
Hoje já é o quarto dia de convívio com eles (cerca de 15 rapazes), mas continuo achando curiosa a maneira que interagem entre si, pois todos seguem o protocolo 『先輩(せんぱい)-後輩(こうはい)』, "veteranos-calouros", que é muito diferente do que vemos no Brasil. A própria linguagem é diferente quando um 後輩 se dirige a um 先輩; por exemplo, é obrigatório o uso de 『ですか?』 no final das perguntas, os verbos são usados na forma 『ます』, nunca pode faltar o tratamento 『さん』 etc.
Eu mesmo cheguei a participar dessa hierarquia no ginásio, mas esta é a primeira vez que vejo várias pessoas de níveis diferentes na mesma sala. Por mais que haja certa intimidade entre um veterano e calouro, esta regra é respeitada à risca. Para eles, isso é 『常識(じょうしき)』, o senso comum. Não é necessário ser ensinado nas escolas ou no trabalho; é algo inato do povo japonês.
Bom, já me prolonguei demais, mas ainda vou voltar a falar sobre 『常識』, pois é algo bem interessante e representa muito da cultura daqui.
Só para não dizer que não postei nenhuma foto, aqui vão três:
Landmark Tower, o prédio mais alto do Japão.
Foto que tirei ontem. Uma pequena parte do Minato Mirai.
A vista é bela de dia também.
4 comentários:
Como sempre belas palavras sobre esse grande pais...Omedeto !!!
Saudades...
Faltou a foto daquela embarcação...
Qualéquié mano, se o lab é uma zona é que nem seu quarto! hahahaha Devia estar acostumado hehe
E os shows que tem em yokohama? todo final de semana tem apresentacoes nas pracas.
aproveita e tira umas fotos de um kaiten sushi.
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