quarta-feira, 11 de agosto de 2010

De volta ao Brasil...

Pois é, de volta ao Brasil...

É até meio redundante dizer que estes 3 meses no Japão passaram rápido, porque a sensação é sempre a mesma. O estranho é que, ao mesmo tempo, sinto que consegui fazer muita, muita coisa nesse espaço de tempo; talvez a minha tentativa de fazer algo diferente todos os dias tenha sido bem sucedida.

Dos lugares que eu havia planejado visitar, não sobrou sequer um; pelo contrário, conheci lugares que até então nunca tinha ouvido falar!

Mas regressando ao Brasil, me dei conta de algo que, no fundo, eu já sabia: mais do que dos lugares, das paisagens, dos produtos e tudo mais, sinto mais falta das pessoas. Não exatamente de pessoas específicas (embora tenha conhecido pessoas muito boas, claro), mas da essência do povo japonês que o torna tão único.

Já falei sobre isso algumas vezes, mas só estando lá é possível entender que não é exagero quando alguém afirma que o Japão, em termos de educação e respeito, continua sendo o número 1 do planeta. Não que eu conheça todos os outros países e culturas (longe disso, aliás), mas realmente não consigo imaginar uma sociedade que valorize a relação interpessoal tanto quanto a japonesa.

Virou até clichê dizer que os japoneses são frios e impessoais, mas eu, particularmente, discordo. Durante este período que estive sob os cuidados da Jica, sempre fui muito bem recebido por todos, com saudações e sorrisos calorosos. O fato é que tudo isto acontece literalmente à distância, sem qualquer tipo de contato físico, e geralmente de uma maneira bastante formal. Quem sempre viveu dentro dos costumes brasileiros pode interpretar isto como frieza, mas eu não vejo assim. Trata-se de uma diferença cultural entre dois extremos: o Japão da formalidade e o Brasil da informalidade.

É verdade que ambos exageram, em determinadas situações. Quem já presenciou uma típica troca de cartões de visita (os chamados 名刺、めいし) entre os japoneses, deve ter sentido isto, mas o mesmo vale para um garçom que chega jogando o cardápio na mesa dizendo "E aí, galeraaa?!". Para quem se acostumou com 『いらっしゃいませ』, 『大変(たいへん)お待たせいたしました』, 『ごゆっくりどうぞ』 etc., isto soa como uma música sertaneja ofensa.

Porém, como tudo isso é resultado de uma longa trajetória de cada país, fica até sem sentido um brasileiro exigir determinado comportamento de um japonês e vice-versa. Ou seja, por mais que o Brasil venha a crescer tudo o que se espera, e futuramente venha a ser uma nação rica (algo que eu não consigo imaginar, mas...), muitas coisas vão permanecer como são, pois a essência do povo brasileiro vai continuar sendo a mesma.

Mas pensando bem, talvez a maioria dos brasileiros já esteja tão acostumada com a falta de educação e cordialidade de seu país, que nem se dá conta disso. Quem sabe se passasse um tempo imerso na sociedade nipônica, iria perceber que é possível viver de maneira mais harmoniosa, pensando um pouco no bem-estar alheio, respeitando as regras básicas da sociedade, valorizando a educação etc.

Enfim... é assim que me sinto ao voltar para a terra natal. Triste? É...

Claro que o Brasil tem suas qualidades, mas no momento só consigo pensar na educação e respeito com que tive o privilégio de conviver mais uma vez, e o quanto isso vai me fazer falta.

8 comentários:

Claudio disse...

Depois de ler o post, eu sinto que não há muita coisa a se dizer. Mesmo eu nunca tendo visitado o Japão, imagino que a sensação que sinto ao terminar de ler é um gostinho de algo que provavelmente eu também sentiria se tivesse passado um tempo lá e retornado para cá.

Eu também valorizo demais educação, respeito, cordialidade, receptividade... Acho que é por isso que eu acabo me identificando tanto com essa cultura, várias vezes mais do que com a cultura daqui, infelizmente. Costumo brincar com uns amigos que nós nascemos aqui, mas não nascemos brasileiros, pois todas as características marcantes daqui, não nos faria falta; porém justo as que estão em escassez aqui, é o que queremos mais.

Se tivesse a oportunidade, trocaria a informalidade e o "calor" das pessoas daqui para viver lá com o respeito e a educação?

Seja bem-vindo de volta Gabriel-san!

Abraços!

ariel disse...

本気ですね!ブラジルで、てんねさは見つけるにくいです。またポストありがとう ございます。

Aru disse...

Belas palavras, Ueda-sensei. Acho que se os brasileiros entendessem que nem todos dividem os mesmos gostos e parassem de jogar lixo na rua, já seriam dois grandes passos nessa nação.

Anônimo disse...

Gabriel-san, qdo tiver um tempinho por favor, como seria em japonês a seguinte frase : " ele fica feliz em ajudar os outros."

Bom retorno e arigatougozaimasu!!!

Unknown disse...

Vivi 7 anos em Portugal. Por ser um país pequeno, posso dizaer q é "provinciano", desculpa o termo. Lá as pessaoas ainda tão valor aos bons costumes e a boa educação. Respeitam algumas condutas, não invadem o espaço alheio, etc....
Qd voltei p o Brasil em 2008, estranhei mt e até hj, sinto falta disto. Vivo no Rio de Jnaeiro e o carioca é o povo mais informal que conheço.

CARUSO disse...

Muito interessante essa sua visão. Sério mesmo. Sou carioca e vivo no Japão há 9 anos. Gostei realmente do seu modo de expor seu sentimento qto à educação do povo japonês. Mas gostei principalmente quando disse que os dois são extremos. Os dois! Eu já fui um que dos que diziam que o povo japonês é frio, mas hoje, estou começando a me convencer de que é uma mera questão cultural. Mas confesso que acho estranho, um japonês jovem voltar do Brasil depois de 1 ano e ninguém da família ir buscá-lo no aeroporto na mesma cidade, e ele entrar em casa e ir para o quarto deixar as malas e depois disso, cumprimentar os pais, na sala, como se estivesse voltando da padaria na esquina! (conheci dois que me relataram isso!) Ou rever o encontro, 10 anos depois, de duas japonesas que estudaram juntas durante toooodo o colégio e as duas se falarem como se estivessem em um primeiro encontro em uma reunião de negócios!!! É triste demais isso! Sinto muita falta do calor humano do nosso povo. Não digo da falta de educação das pessoas na rua não! Pq uma boa educação, eu tbm prezo muito! Mas digo, de conversar sem frescuras, de se tornar amigo logo depois de alguns momentos juntos, de se respeitar sim, mas sem muita formalidade entre amigos, colegas de trabalho, de abraçar os amigos, de fazer piadinhas um com o outro, de falar palavrão entre amigos etc etc. O que eu não gosto é qdo as pessoas julgam que nosso comportamento é estranho e o dos japonês é o ideal. Por isso gostei qdo disse que OS DOIS são extremos. Confesso que adoro a educação do povo japonês(em geral!pq tem muito japonês grosso e mal educado sim!)e que ao mesmo tempo, fico triste com a falta de educação do nosso povo (nem todos tbm, pq há muita gente educada tbm!). O que quero dizer é que os dois têm muito a aprender um com o outro. E não só nos brasileiros com os japoneses! Eles tbm! E mesmo que o Brasil seja uma nação rica, desejo de todo o coração que nunca sejamos igualzinhos aos japoneses! Seria trsite demais! PS.: há muitas japoneses fãs do Brasil que adoram o nosso modo de ser e muitas vezes qdo os cumprimento com uma mera reverência, muitos deles me dizem: ah não! me cumprimenta como vc faz no Brasil! Me dá um beijo!(...ou um abraço, dependendo do sexo!)Mas eles pedem!

Gasparzinho disse...

Só Tenho uma Coisa a comentar!
Parabens Caruso pelo o que voce escreveu!!! Voce realmente e uma pessoa que sabe ver e avaliar os dois paises respeitando e comentando de forma que possamos refletir e aprender o que essas culturas tao diferentes podem se oferecer!!
E apesar de voce conhecer realidades tao distintas(Brasile Japao) vejo que voce nunca deixou de amar teu país. Acho que voce entende o que quero transmitir.Tenho certeza que voce e um bom exemplo de Brasileiro para os Japoneses!!
Felicidades!!!

立ちゃん disse...

さすがガブちゃん!!!
Concordo plenamente com você!!!
A única coisa ruim de conhecer um país diferente é que sempre terá algo de bom e diferente que não há onde vivemos. E por isso sempre teremos aquele sentimento de que falta algo. O ideal seria se pudéssemos juntar todas as coisas boas em um só lugar. Ou não.
Em breve sentirei o mesmo que você está sentindo.
Beijo