sábado, 28 de março de 2009

Kanten (観点、かんてん)- Ponto de vista; parte 3 - "Bem-vindo"

O povo japonês é conhecido pela sua educação, certo?

Certo. Tanto no sentido de escolaridade quanto no de comportamento. Existem dezenas, senão centenas, de características que derivam desta qualidade que para nós, brasileiros, chegam a ser surpreendentes.

Vou relatar uma recordação pessoal minha que diz respeito ao tratamento dado a clientes de um estabelecimento qualquer.

Havia acabado de chegar ao Japão, aos meus 9 anos de idade, portanto ainda me adaptava àquele ambiente tão diferente.

Certo dia, fui com os meus pais a um shopping, mais exatamente um departament store, muito comum por lá.

Peguei a escada rolante, fui subindo... e assim que cheguei ao piso superior, me deparei com uma funcionária do shopping, com um uniforme e postura ambamente impecáveis, voltada para minha direção. Antes que eu tivesse tempo de questionar
"O que essa moça faz aí de pé, parada?",

percebi que, obviamente, ela estava ali por um motivo.

E eis o motivo: se curvar para TODOS os clientes que subiam pela escada rolante e proferir um leve "irashaimasê", ou seja, "Bem-vindo".

Mas como assim, a função dela era essa? Ficar ali de pé por horas a fio abaixando a cabeça pra estranhos, e ainda por cima de salto-alto? Ela era paga só pra isso??

Sim.

Isto ocorreu há mais de uma década, mas me lembro nitidamente, e é fácil entender por quê: nunca, nunca, jamais, eu havia sido recepcionado por uma funcionária de um estabelecimento de uma maneira tão educada e cortês.

Aquilo marcou meu então-cérebro-de-9 anos de tal modo que guardo este acontecimento corriqueiro (pelo menos para os nativos era uma coisa óbvia, natural) como síntese do comportamento profissional japonês perante um cliente.

Aqui no Brasil não existe este tipo de tratamento, certo? Opa, claro que existe. Mas que eu me lembre, só em restaurantes e hotéis mais requintados (não que eu tenha ido a muitos).

Ir a um supermercado do Brasil esperarando este tipo de respeito, que no Japão é algo inerente a qualquer tipo de comércio, é sinônimo de frustração.

Claro, não é bom generalizar, mas eu fico surpreso quando recebo um atendimento bom. Sinal de que na maioria das vezes isto de fato se confirma.

O que é lamentável no nosso país é que os estabelecimentos só dão a devida importância ao atendimento ao cliente quando este é exigente o suficiente para considerá-lo um fator determinante entre optar pela concorrência ou continuar sendo cliente.

Ou seja, enquanto que para nós brasileiros um bom atendimento é muitas vezes visto como um diferencial competitivo, para os japoneses ele se enquadra nas exigências mínimas que um consumidor pode ter.

Mas ora, claro que esta não é uma filosofia que não pode ser incorporada ao nosso país!

Basta voltar ao tempo, lá pro ano de 1500, e recomeçar tudo do zero, com uma cultura totalmente diferente!

Simples, não?

Um comentário:

Gustavo Silva disse...

creio que os nossos tupiniquins eram mais corteses do que a maioria dos brasileiros hoje em dia!

curiosidade:
Tupi quer dizer primeiro, agora o "niquin" não faço ideia!