terça-feira, 27 de setembro de 2011

Voltando com uma receita japonesa

みなさん、お元気(げんき)でしょうか?

Faz tempo, não? Pois é. Acredito que a cada hiato do blog, muitos pensam que dessa vez eu desisti de vez das postagens, mas isso não é verdade!

O que acontece é o seguinte: eu disse recentemente que estava participando da seleção de uma empresa, e que felizmente fui aprovado. Porém, estou de 強制休暇・きょうせいきゅうか, férias forçadas, desde o dia 2 desse mês.

Como assim?

Era para ter iniciado o novo trabalho no último dia 11, mas aí a velha conhecida burocracia brasileira interveio e me barrou. Foi o CREA, registro profissional exigido por essa nova empresa na qual irei ingressar. Como não consegui adquiri-lo até a data limite, no começo do mês, fiquei retido até a próxima integração, no dia 11 de outubro.

Enquanto isso...?

É, enquanto isso, tenho tido tempo de sobra, parte em Londrina, parte aqui em Campinas. Foi nesse período que constatei algo que havia escutado antes: tempo em excesso é inimigo da produtividade.

Engana-se quem pensa que, com muitas horas à disposição todos os dias, fica fácil realizar atividades úteis. A tendência é exatamente o contrário: a preguiça toma conta e, quando você vê, o tempo já passou e é hora de voltar à rotina de trabalho novamente. Os japoneses, nessas horas de ócio, dizem:


退屈(たいくつ)だなぁ…』


Sim, 『退屈』 é o sentimento de ociosidade e preguiça misturados. Parecido com 『ひま』, mas com uma conotação levemente negativa.

Mas! Aproveitei esse 暇な時間(じかん), tempo livre, pra fazer algumas coisas diferentes. Hmm... não sei se são "algumas", no plural, mas pelo menos uma: 料理りょうり, ou seja, culinária.

Pra quem mal sabia fazer gohan em 炊飯器すいはんき, aquelas panelas de arroz automáticas fantásticas, tomar iniciativa pra ler uma receita - em nihongo - e botar a mão na massa foi um grande passo. E justamente por isso gostaria de compartilhar isso com vocês.

Calma, não achem que vou postar técnicas avançadas de さしみ ou スイーツ (nome dado aos doces japoneses, que são uma das maiores atrações do país), mas apenas o básico do básico. Primeiro, gostaria que assistissem ao vídeo abaixo, de pouco mais de 1 min, que é a レシピ, receita, de 親子丼・おやこどん:



親子』 significa "pais e filhos" (acredito que seja referência à galinha, "mãe", e ao ovo, "filho"), e 『』 é a abreviação de 『どんぶり』, a tradicional tigela, um pouco maior que o 茶碗・ちゃわん:


No começo do vídeo, a シェフ, chef, diz:


 『親子丼を作(つく)ります材料(ざいりょう)はこちらです。』

"Vamos fazer Oyakodon. Os ingredientes são estes."


Aqui vai a lista:

鶏肉とりにく, frango: 100g

(たま)ねぎ, cebola: meia unidade pequena

たまご, ovos: 2 unidades

みず, água: 150 ml

ほんだし, tempero à base de peixe: meia colher de chá

砂糖さとう, açúcar: meia colher de sopa

しょうゆ, shoyu: 2 colheres de sopa

みりん, condimento alcoólico: 2 colheres de sopa

ごはん, arroz japonês: 400g


O hondashi e o mirin podem não ser familiares à maioria, mas são facilmente encontrados na sessão de produtos japoneses das principais redes de supermercados! E não são caros.

Bom, a 調理師・ちょうりし, cozinheira, continua com:


『鶏肉は2センチ角(かく)に切(き)り、玉ねぎは(うす)(ぎ)にします。』

"O frango deve ser cortado em cubos de 2 centímetros, e a cebola, fina."


薄い』, aqui, é "fino", mas pode ser também "claro", como em 『薄い色(いろ)』, "cor clara".

Na sequência, ela corta a tal da みつば, cujo nome em português desconheço, portanto deixei de fora. Na verdade, é apenas um opcional.

Depois,


『小(ちい)さめなフライパンに分量(ぶんりょう)の水(みず)

ほんだし、砂糖、しょうゆ、みりんを入(い)れて煮(に)(た)てます。』


"Em uma frigideira pequena, coloque a medida de água,

o hondashi, o açúcar, o shoyu e o mirin, e deixe ferver."


Reparem: não se diz "shôyu", e sim "shoyú".

Continuando:


『鶏肉、玉ねぎを加(くわ)えて、

中火(ちゅうび)で3分(さんぷん)ほど煮(に)

(と)き卵(たまご)を回(まわ)し入(い)れて、

半熟状(はんじゅくじょう)に煮(に)ます。』


"Acrescente o frango e a cebola,

deixe em fogo médio por cerca de 3 minutos,

coloque os ovos batidos de maneira circular

e deixe no fogo até ficar semi-cozido."


O verbo 『煮(に)る』 aparece toda hora nos 番組・ばんぐみ, programas de tv, de culinária, e é simplesmente "cozinhar" mesmo.

Por último:


『半量(はんりょう)ずつごはんに載(の)せ、

みつばを散(ち)らして、

出来(でき)(あ)がりです。』


"Coloque meia porção sobre o arroz,

jogue a mitsuba por cima

e está pronto."


Ah, ela diz para colocar meia porção porque a receita é para duas pessoas, esqueci de dizer!

É um dos pratos mais populares do Japão, pois além de saboroso, é muito fácil de ser preparado (a prova disso é que eu consegui fazer!).

Não achavam que iriam ver um post assim por aqui, né?

Muito menos eu!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Como dizer? #009

Lembrei de uma situação curiosa pela qual passei no trabalho, no começo do ano.

Foi assim: determinada pessoa que trabalhava comigo foi me apresentar a um engenheiro que havia acabado de chegar do Japão para nos dar suporte. O problema é que essa pessoa, mesmo sendo descendente de japoneses e ocupando um cargo de 上司・じょうし, chefia, não dominava o nihongo. Até sabia uma certa quantidade de 言葉・ことば, palavras, mas com enorme dificuldade para formar 文・ぶん, frases, o que é bastante comum.

Resultado? Teve que recorrer ao 英語・えいご, que também não era uma maravilha.

A questão é: por mais que você não seja fluente em japonês, é desejável saber no mínimo se auto-apresentar e apresentar alguém. Certo?

"...acho que sim!", alguns devem ter pensado.

Pois é, acredito que no país das formalidades, é interessante saber pelo menos dizer o nome do amigo, colega, familiar etc. para os outros.

Assim sendo, vamos pelo começo: qual é a palavra introdutória essencial?

O nome da pessoa?

Sim, por que não? Mas e depois?

Respondendo com exemplo:


『森田(もりた)さん、こちらは...』

"Sr. Morita, este(a) é..."


Sim, a expressão-chave é 『こちらは』, ou também 『この方(かた)』. Talvez essa segunda opção seja até mais formal.

Ah, coloquei reticências, mas não significa que você precisa dar uma pausa:


"Este é o... ahm... er...."


Por favor, né? Aí sim fica feio, tanto pra pessoa sendo apresentada quanto pro seu conhecido!

Poderia ser algo assim:


『森田さん、こちらはペドロです。』

"Sr. Morita, este é o Pedro."


Mas... não seria 『ペドロさん』?

Depende. Como no exemplo assumi que o introdutor está apresentando o Pedro, que é um colega de trabalho, para o Sr. Morita, a resposta é não.

Isso faz parte da cultura japonesa: os colegas do mesmo nível hierárquico se consideram iguais perante as pessoas de fora, como se fossem da mesma família. Você nunca apresenta um irmão ou irmã colocando 『さん』 depois do nome; é o mesmo princípio.

Bom, depois disso, as possibilidades são infinitas, mas poderia ser algo como:


『ペドロは日本語(にほんご)がとても上手(じょうず)です。』

"O Pedro fala japonês muito bem."


E pronto, o papel do introdutor está acabado. Daí pra frente o Pedro se vira!

Mas e se for o subordinado apresentando o seu próprio chefe?

O organograma empresarial do Japão é bem peculiar: existe 係長・かかりちょう, 班長・はんちょう, 課長・かちょう, 部長・ぶちょう, 所長・しょちょう e vários outros "chō" (que simboliza chefia) espalhados, mas não correspondem exatamente ao cargos conhecidos no Brasil, como coordenador, supervisor, gerente, gerente-geral etc.

Então, para designar um supervisor, pode-se recorrer ao katakana:


『森田さん、こちらはカルロススパーバイザーです。』

"Sr. Morita, este é o supervisor Carlos."


『こちらはネルソンマネージャーです。』

"Este é o gerente Nelson."


Ok?

Foi simples, mas já é bem melhor que ter que recorrer ao inglês, que geralmente não tem nada a ver com a história! :)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Voltando ao blog!

Pois é, みなさん, parece que cada vez mais o intervalo entre os posts vai aumentando... Não gosto de dar 言(い)い訳(わけ), desculpas, mas dessa vez realmente tive um 理由(りゆう), motivo: mudança de emprego.

Felizmente deu tudo certo no meu novo desafio profissional, mas como muitos devem saber, os processos de seleção costumam ser cansativos e deixam qualquer um tenso e principalmente ansioso.

Bom, agora que estou mais tranquilo, podemos voltar ao ブログ.

Logo no começo deste post lembrei de uma dúvida bastante comum: eu escrevi 『みなさん』, mas eu poderia ter escrito 『みなさん』 também?

Resposta...?

Não.

Quando você se dirige formalmente a um grupo de pessoas, deve dizer ou 『みなさん』 ou 『皆様・みなさま』, mas nunca 『みなさん』. Pelo seguinte: 『みんな』 é um termo informal, enquanto que 『さん』, como todos devem saber, indica respeito.

Foi bom ter tocado nesse assunto, pois várias vezes já vi pessoas escrevendo 『みなさん、こんにちは!』 ou algo similar. Se a situação for informal, aí sim pode dizer:


『みんな、早(はや)く行(い)こうよ!』

"Pessoal, vamos logo!"


Nessas últimas semanas, apesar de não ter postado nada, fiquei pensando no que poderia publicar, e pensei em algumas frases informais.

Por exemplo, alguém já teve vontade de dizer o popular "Nossa, tô viajando..." em nihongo, acabou pensando na tradução literal, 『旅行(りょこう)してる...』 e cometeu uma gafe?

Espero que não, mas para expressar que estava distante, com pensamentos em outros lugares, pode dizer:


ちょっとボケてる


ボケ』 pode até ser utilizado como um termo ofensivo, mas o verbo 『ボケる』, que naturalmente não é um verbo regular, tem um sentido parecido com o nosso "viajar".

Ligado a isso, temos a expressão "Não entendi bolhufas", certo? Ah sim, não sei se essa expressão é utilizada no Brasil inteiro, mas significa basicamente "Não entendi nada nada nada". Em nihongo, podemos dizer:


さっぱりわからん。』


A forma 『わから』, como muitos devem saber, é equivalente a 『わからない』; antes eu achava que era um regionalismo de Hiroshima, onde morei, e talvez até seja, mas descobri depois que o Japão inteiro recorre a essa variação.

Exemplo prático:


『これ、アラブ語(ご)だけど、わかる?』

"Viu, isso aqui é Árabe; você entende?"


『いや、さっぱりわからん。』

 "Não, não entendo nada."


Ok?

Mais uma expressão, então:


『うっそぉ、マジかよ?』


Esse 『うっそぉ』, na verdade, é 『嘘・うそ』, "mentira", e 『マジ』 é um termo coloquial que equivale a 『本当ほんとう』, "verdade". Fica engraçado ver os dois termos antagônicos quase juntos, mas é mais ou menos assim que se diz


"Ah, você tá de brincadeira, né?"


ou algo do gênero!

Reparem que, nas expressões em português, eu não usei nenhum palavrão, embora todos saibam que no nosso dia-a-dia, o mais comum é escutar frases recheadas de termos de baixo calão.

O fato é que, em japonês, fica até cômico tentar usar essas expressões com palavrões no meio. Não só por questão cultural, mas o próprio idioma em si não permite a montagem de frases com termos agressivos sem que fiquem estranhas.

Ainda bem!