quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ainda na ativa, com novo nome.

みなさん、お元気(げんき)でしょうか?

Mais uma vez sumi por um bom tempo - dessa vez bati recorde! -, mas ainda não abandonei o blog.

Como a maioria já deve ter notado, finalmente mudei o nome do dito cujo para 『なるほどね!』. Há meses e meses vinha pensando em algo simples e intuitivo, e no fim acabei tirando a expressão "naruhodo ne!" de uma experiência pessoal de muitos anos atrás.

Que experiência?

Aí temos que voltar aos anos 90, quando eu estava na quinta série do 小学校・しょうがっこう - escola primária -, no interior de 広島県・ひろしまけん, província de Hiroshima. Acho que não fazia sequer um ano desde que eu havia me mudado para lá, mas já tinha desenvolvido certa capacidade de comunicação e, junto com isso, fazia algumas amizades.

Certo dia, antes do início de um jogo de basquete - na época, o マイケル・ジョーダン ainda jogava, o que fazia da NBA algo interessante de se assistir -, meus amigos me chamaram de 『ガブガブ』 (era meu apelido, abreviação de ガブリエル).

Minha 先生・せんせい, então, fez um olhar pensativo e disse:


『上田(うえだ)(くん)のことを「ガブ」… あぁ、あぁ、なるほどね!』

"Chamando o Ueda-kun de 'Gabu'... Ah sim, sim...!"


Não sei por quê, mas lembro dessa cena com uma clareza espantosa. Talvez tenha sido uma das primeiras vezes que escutei a expressão 『なるほど』, e ainda por cima em um contexto super intuitivo.

『なるほど!』 não possui uma tradução exata, mas expressa entendimento, como na situação acima. Imagino que deva estar entre as dez expressões mais usadas pelos nipônicos no dia a dia.

Então é isso. A partir de hoje, nada de 日本語習え!, aquele título imperativo que assustava a maioria dos visitantes japoneses! Espero postar coisas que façam você dizer, no final:


『なるほどね!』


では!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Falando formalmente de maneira informal

Sempre digo que uma das 特徴とくちょう - características - mais marcantes do nihongo é a sua formalidade. Recentemente, li a autobiografia do fundador da Sony, o já falecido Akio Morita, que disse algo como: "De um modo geral, o idioma japonês é bastante formal, o que faz com que as pessoas falem de maneira bem educada".

Claro, se existe intimidade entre as pessoas, aí a linguagem passa a ser coloquial, como em qualquer lugar do planeta, mas caso contrário, a afirmação acima é quase sempre verdadeira. Mais curioso ainda é que existem maneiras de se falar quase informalmente, mas sem perder a formalidade.

Como assim?

Vejamos um diálogo fictício (que eu não criava há meses!) entre, digamos, um chefe e seu subordinado:


『なぁ、あきら君(くん)、新(あたら)しい車(くるま)は?どんな感(かん)じ?』

"E aí, Akira-kun, e o novo carro? Como é?"


『そうっすね、なかなかいいっすよ。静(しず)かで。』

"Ah sim, até que é bom! É silencioso."


『そうか。でもちょっと高(たか)いだろ?』

"Hmm. Mas é meio caro, não?"


『いいえ、そんなに高(たか)くないっすよ。230万円(まんえん)でしたから。』

"Não, não é tão caro assim. Custou ¥2.300.000."


Muito bem. O que há de "estranho", na versão em nihongo?

Ora, é óbvio: a presença de 『っす』, que não deve ser muito familiar àqueles que estudam o idioma essencialmente através de livros didáticos. Mas quem já escutou diálogos entre nativos talvez tenha uma leve sensação de "Opa, isso não me é estranho."

O que acontece é muito simples: o 『です』 vira 『っす』, simplesmente por ser mais fácil de ser pronunciado. Isso deixa a frase mais informal, mas sem deixar de ser respeitosa, o que é muito 便利べんり, prático.

Mas é importante saber que esse recurso é bem masculino, então não pega muito bem quando utilizado pelas 女性・じょせい, mulheres. Pois é, mas não fui eu quem determinou isso!

Seguem outras frases de exemplo:


『この本(ほん)はちょっと難(むずか)しそうっすね。』

"Esse livro parece ser meio difícil, não?"


『アメリカのコーヒーは薄(うす)すぎないっすか?』

"O café dos EUA não é muito fraco?"


『この周辺(しゅうへん)は危(あぶ)ないっすよ、夜(よる)は。』

"Essa região é perigosa, à noite."


Ok?

E olhem que dessa vez demorei bem pouco pra postar, hein? Quem sabe recupero um pouco o リズム, ritmo?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Neymar falando japonês

No começo desse mês, foi divulgado um vídeo do atacante Neymar pedindo apoio aos torcedores japoneses no Mundial de Clubes, que acontece em dezembro na terra do Sol nascente:



É bem simples e direto o que ele diz:


『こんにちは、私(わたし)の名前(なまえ)はネイマール。』

"Olá, meu nome é Neymar."


『サントスのフォワードです。』

"Sou atacante do Santos."


『12月(じゅうにがつ)、日本(にほん)に行(い)きます。』

"Em dezembro, vamos ao Japão."


『応援(おうえん)、よろしくお願(ねが)いします。』

"Conto com a apoio de vocês."


A pronúncia não está perfeita (e nem precisava estar), mas com certeza os japoneses adoraram ver um jogador brasileiro da importância do Neymar falando o idioma deles!

Eu, particularmente, sou fã de Lionel Messi, mas no provável confronto entre Santos e Barça na 決勝戦・けっしょうせん, final, pode ser que eu apoie o ネイマール e cia!






Adejtivos - formas い e な

Quase que o mês se foi sem sequer uma atualização, mas hoje decidi voltar a postar.

Existem vários assuntos que quero abordar, e no fim acabo ficando meio perdido... Mas vou tentar reproduzir um post que havia digitado no iPod uns dias atrás e que acabou não sendo salvo e se perdeu.

O assunto era o uso de adjetivos, um tópico básico mas que muita gente erra.

A primeira coisa que precisa ser memorizada quando o assunto é 形容詞けいようし, adjetivo, é que existem 二種類にしゅるい - dois tipos - dele: forma い e forma な. O problema está justamente nessa diferenciação!

No ano passado, uma colega brasileira estava conversando com um nativo a respeito da sua própria habilidade com o nihongo, e este disse a ela:


『いや、でも___さんもうまいよ!』

"Não, mas você, _____-san, também fala bem!"


E a resposta foi:


うまいじゃないよ!』


Muito bem. O que ela quis dizer foi: "Não, não falo bem!". Ironicamente, ela acabou dizendo - indiretamente - que de fato não fala tão bem, embora o rapaz tenha entendido perfeitamente o sentido da frase.

Mas o que está errado, então?

É o seguinte: 『うまい』, que é utilizado tanto para descrever habilidades quanto como uma versão masculina de 『おいしい』, é da forma , então nesse caso nunca deve ser seguido por 『じゃない』!

O correto seria:


うまくないよ!』


A regrinha é simples: o 『desaparece e dá lugar a 『くない』. É bem simples, mas vamos ver outros exemplos:


『今年(ことし)の冬(ふゆ)はあまり(きび)しくないですね。』

"O inverno desse ano não está muito rigoroso, não?"


『この映画(えいが)はちっとも面白(おもしろ)くないですよ。』

"Esse filme não é nem um pouco legal, viu?"


『シャツの色(いろ)(くろ)くない(ほう)がいいじゃないですか?』

"Não é melhor que a cor da camisa não seja preta?"


E assim por diante.

Mas então por que essa minha colega se confundiu e disse 『うまいじゃない』?

Ora, é simples: se fosse um adjetivo da forma , aí o 『じゃない』 estaria bem empregado.

Exemplo:


『___さん、料理(りょうり)上手(じょうず)だそうですね。』

"____-san, dizem que você cozinha bem, né?"


『いいえ、上手じゃないですよ!』

"Não, não cozinho bem não!"


Certo?

É apenas uma questão de se acostumar com os tipos de adjetivos, depois tudo vem automaticamente!

また来月(らいげつ)まで!

Até o mês que vem!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Voltando com uma receita japonesa

みなさん、お元気(げんき)でしょうか?

Faz tempo, não? Pois é. Acredito que a cada hiato do blog, muitos pensam que dessa vez eu desisti de vez das postagens, mas isso não é verdade!

O que acontece é o seguinte: eu disse recentemente que estava participando da seleção de uma empresa, e que felizmente fui aprovado. Porém, estou de 強制休暇・きょうせいきゅうか, férias forçadas, desde o dia 2 desse mês.

Como assim?

Era para ter iniciado o novo trabalho no último dia 11, mas aí a velha conhecida burocracia brasileira interveio e me barrou. Foi o CREA, registro profissional exigido por essa nova empresa na qual irei ingressar. Como não consegui adquiri-lo até a data limite, no começo do mês, fiquei retido até a próxima integração, no dia 11 de outubro.

Enquanto isso...?

É, enquanto isso, tenho tido tempo de sobra, parte em Londrina, parte aqui em Campinas. Foi nesse período que constatei algo que havia escutado antes: tempo em excesso é inimigo da produtividade.

Engana-se quem pensa que, com muitas horas à disposição todos os dias, fica fácil realizar atividades úteis. A tendência é exatamente o contrário: a preguiça toma conta e, quando você vê, o tempo já passou e é hora de voltar à rotina de trabalho novamente. Os japoneses, nessas horas de ócio, dizem:


退屈(たいくつ)だなぁ…』


Sim, 『退屈』 é o sentimento de ociosidade e preguiça misturados. Parecido com 『ひま』, mas com uma conotação levemente negativa.

Mas! Aproveitei esse 暇な時間(じかん), tempo livre, pra fazer algumas coisas diferentes. Hmm... não sei se são "algumas", no plural, mas pelo menos uma: 料理りょうり, ou seja, culinária.

Pra quem mal sabia fazer gohan em 炊飯器すいはんき, aquelas panelas de arroz automáticas fantásticas, tomar iniciativa pra ler uma receita - em nihongo - e botar a mão na massa foi um grande passo. E justamente por isso gostaria de compartilhar isso com vocês.

Calma, não achem que vou postar técnicas avançadas de さしみ ou スイーツ (nome dado aos doces japoneses, que são uma das maiores atrações do país), mas apenas o básico do básico. Primeiro, gostaria que assistissem ao vídeo abaixo, de pouco mais de 1 min, que é a レシピ, receita, de 親子丼・おやこどん:



親子』 significa "pais e filhos" (acredito que seja referência à galinha, "mãe", e ao ovo, "filho"), e 『』 é a abreviação de 『どんぶり』, a tradicional tigela, um pouco maior que o 茶碗・ちゃわん:


No começo do vídeo, a シェフ, chef, diz:


 『親子丼を作(つく)ります材料(ざいりょう)はこちらです。』

"Vamos fazer Oyakodon. Os ingredientes são estes."


Aqui vai a lista:

鶏肉とりにく, frango: 100g

(たま)ねぎ, cebola: meia unidade pequena

たまご, ovos: 2 unidades

みず, água: 150 ml

ほんだし, tempero à base de peixe: meia colher de chá

砂糖さとう, açúcar: meia colher de sopa

しょうゆ, shoyu: 2 colheres de sopa

みりん, condimento alcoólico: 2 colheres de sopa

ごはん, arroz japonês: 400g


O hondashi e o mirin podem não ser familiares à maioria, mas são facilmente encontrados na sessão de produtos japoneses das principais redes de supermercados! E não são caros.

Bom, a 調理師・ちょうりし, cozinheira, continua com:


『鶏肉は2センチ角(かく)に切(き)り、玉ねぎは(うす)(ぎ)にします。』

"O frango deve ser cortado em cubos de 2 centímetros, e a cebola, fina."


薄い』, aqui, é "fino", mas pode ser também "claro", como em 『薄い色(いろ)』, "cor clara".

Na sequência, ela corta a tal da みつば, cujo nome em português desconheço, portanto deixei de fora. Na verdade, é apenas um opcional.

Depois,


『小(ちい)さめなフライパンに分量(ぶんりょう)の水(みず)

ほんだし、砂糖、しょうゆ、みりんを入(い)れて煮(に)(た)てます。』


"Em uma frigideira pequena, coloque a medida de água,

o hondashi, o açúcar, o shoyu e o mirin, e deixe ferver."


Reparem: não se diz "shôyu", e sim "shoyú".

Continuando:


『鶏肉、玉ねぎを加(くわ)えて、

中火(ちゅうび)で3分(さんぷん)ほど煮(に)

(と)き卵(たまご)を回(まわ)し入(い)れて、

半熟状(はんじゅくじょう)に煮(に)ます。』


"Acrescente o frango e a cebola,

deixe em fogo médio por cerca de 3 minutos,

coloque os ovos batidos de maneira circular

e deixe no fogo até ficar semi-cozido."


O verbo 『煮(に)る』 aparece toda hora nos 番組・ばんぐみ, programas de tv, de culinária, e é simplesmente "cozinhar" mesmo.

Por último:


『半量(はんりょう)ずつごはんに載(の)せ、

みつばを散(ち)らして、

出来(でき)(あ)がりです。』


"Coloque meia porção sobre o arroz,

jogue a mitsuba por cima

e está pronto."


Ah, ela diz para colocar meia porção porque a receita é para duas pessoas, esqueci de dizer!

É um dos pratos mais populares do Japão, pois além de saboroso, é muito fácil de ser preparado (a prova disso é que eu consegui fazer!).

Não achavam que iriam ver um post assim por aqui, né?

Muito menos eu!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Como dizer? #009

Lembrei de uma situação curiosa pela qual passei no trabalho, no começo do ano.

Foi assim: determinada pessoa que trabalhava comigo foi me apresentar a um engenheiro que havia acabado de chegar do Japão para nos dar suporte. O problema é que essa pessoa, mesmo sendo descendente de japoneses e ocupando um cargo de 上司・じょうし, chefia, não dominava o nihongo. Até sabia uma certa quantidade de 言葉・ことば, palavras, mas com enorme dificuldade para formar 文・ぶん, frases, o que é bastante comum.

Resultado? Teve que recorrer ao 英語・えいご, que também não era uma maravilha.

A questão é: por mais que você não seja fluente em japonês, é desejável saber no mínimo se auto-apresentar e apresentar alguém. Certo?

"...acho que sim!", alguns devem ter pensado.

Pois é, acredito que no país das formalidades, é interessante saber pelo menos dizer o nome do amigo, colega, familiar etc. para os outros.

Assim sendo, vamos pelo começo: qual é a palavra introdutória essencial?

O nome da pessoa?

Sim, por que não? Mas e depois?

Respondendo com exemplo:


『森田(もりた)さん、こちらは...』

"Sr. Morita, este(a) é..."


Sim, a expressão-chave é 『こちらは』, ou também 『この方(かた)』. Talvez essa segunda opção seja até mais formal.

Ah, coloquei reticências, mas não significa que você precisa dar uma pausa:


"Este é o... ahm... er...."


Por favor, né? Aí sim fica feio, tanto pra pessoa sendo apresentada quanto pro seu conhecido!

Poderia ser algo assim:


『森田さん、こちらはペドロです。』

"Sr. Morita, este é o Pedro."


Mas... não seria 『ペドロさん』?

Depende. Como no exemplo assumi que o introdutor está apresentando o Pedro, que é um colega de trabalho, para o Sr. Morita, a resposta é não.

Isso faz parte da cultura japonesa: os colegas do mesmo nível hierárquico se consideram iguais perante as pessoas de fora, como se fossem da mesma família. Você nunca apresenta um irmão ou irmã colocando 『さん』 depois do nome; é o mesmo princípio.

Bom, depois disso, as possibilidades são infinitas, mas poderia ser algo como:


『ペドロは日本語(にほんご)がとても上手(じょうず)です。』

"O Pedro fala japonês muito bem."


E pronto, o papel do introdutor está acabado. Daí pra frente o Pedro se vira!

Mas e se for o subordinado apresentando o seu próprio chefe?

O organograma empresarial do Japão é bem peculiar: existe 係長・かかりちょう, 班長・はんちょう, 課長・かちょう, 部長・ぶちょう, 所長・しょちょう e vários outros "chō" (que simboliza chefia) espalhados, mas não correspondem exatamente ao cargos conhecidos no Brasil, como coordenador, supervisor, gerente, gerente-geral etc.

Então, para designar um supervisor, pode-se recorrer ao katakana:


『森田さん、こちらはカルロススパーバイザーです。』

"Sr. Morita, este é o supervisor Carlos."


『こちらはネルソンマネージャーです。』

"Este é o gerente Nelson."


Ok?

Foi simples, mas já é bem melhor que ter que recorrer ao inglês, que geralmente não tem nada a ver com a história! :)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Voltando ao blog!

Pois é, みなさん, parece que cada vez mais o intervalo entre os posts vai aumentando... Não gosto de dar 言(い)い訳(わけ), desculpas, mas dessa vez realmente tive um 理由(りゆう), motivo: mudança de emprego.

Felizmente deu tudo certo no meu novo desafio profissional, mas como muitos devem saber, os processos de seleção costumam ser cansativos e deixam qualquer um tenso e principalmente ansioso.

Bom, agora que estou mais tranquilo, podemos voltar ao ブログ.

Logo no começo deste post lembrei de uma dúvida bastante comum: eu escrevi 『みなさん』, mas eu poderia ter escrito 『みなさん』 também?

Resposta...?

Não.

Quando você se dirige formalmente a um grupo de pessoas, deve dizer ou 『みなさん』 ou 『皆様・みなさま』, mas nunca 『みなさん』. Pelo seguinte: 『みんな』 é um termo informal, enquanto que 『さん』, como todos devem saber, indica respeito.

Foi bom ter tocado nesse assunto, pois várias vezes já vi pessoas escrevendo 『みなさん、こんにちは!』 ou algo similar. Se a situação for informal, aí sim pode dizer:


『みんな、早(はや)く行(い)こうよ!』

"Pessoal, vamos logo!"


Nessas últimas semanas, apesar de não ter postado nada, fiquei pensando no que poderia publicar, e pensei em algumas frases informais.

Por exemplo, alguém já teve vontade de dizer o popular "Nossa, tô viajando..." em nihongo, acabou pensando na tradução literal, 『旅行(りょこう)してる...』 e cometeu uma gafe?

Espero que não, mas para expressar que estava distante, com pensamentos em outros lugares, pode dizer:


ちょっとボケてる


ボケ』 pode até ser utilizado como um termo ofensivo, mas o verbo 『ボケる』, que naturalmente não é um verbo regular, tem um sentido parecido com o nosso "viajar".

Ligado a isso, temos a expressão "Não entendi bolhufas", certo? Ah sim, não sei se essa expressão é utilizada no Brasil inteiro, mas significa basicamente "Não entendi nada nada nada". Em nihongo, podemos dizer:


さっぱりわからん。』


A forma 『わから』, como muitos devem saber, é equivalente a 『わからない』; antes eu achava que era um regionalismo de Hiroshima, onde morei, e talvez até seja, mas descobri depois que o Japão inteiro recorre a essa variação.

Exemplo prático:


『これ、アラブ語(ご)だけど、わかる?』

"Viu, isso aqui é Árabe; você entende?"


『いや、さっぱりわからん。』

 "Não, não entendo nada."


Ok?

Mais uma expressão, então:


『うっそぉ、マジかよ?』


Esse 『うっそぉ』, na verdade, é 『嘘・うそ』, "mentira", e 『マジ』 é um termo coloquial que equivale a 『本当ほんとう』, "verdade". Fica engraçado ver os dois termos antagônicos quase juntos, mas é mais ou menos assim que se diz


"Ah, você tá de brincadeira, né?"


ou algo do gênero!

Reparem que, nas expressões em português, eu não usei nenhum palavrão, embora todos saibam que no nosso dia-a-dia, o mais comum é escutar frases recheadas de termos de baixo calão.

O fato é que, em japonês, fica até cômico tentar usar essas expressões com palavrões no meio. Não só por questão cultural, mas o próprio idioma em si não permite a montagem de frases com termos agressivos sem que fiquem estranhas.

Ainda bem!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lost in Translation - 『せっかく』

Ok, ok, outros 10 dias sem postar nada, mas cá estamos de volta.

Hoje, gostaria de falar a respeito de uma palavra específica, muito utilizada no dia-a-dia japonês.

Como todos sabem, há determinadas expressões em certos idiomas que, de tão peculiares, simplesmente não existem nos demais, ou não possuem uma tradução muito boa. É o caso do termo 『せっかく』:


『明日(あした)せっかく(やす)みですからもう少(すこ)し遅(おそ)くまで寝(ね)ます。』


Traduzindo, teríamos algo como:


"Já que amanhã é dia de folga, vou dormir até um pouco mais tarde."


Tudo bem, a tradução não está errada, mas também não está 100% correta! Pelo seguinte: 『せっかく』 corresponde a qual palavra, em português?

Pois é, nenhuma! Ou seja, poderíamos cortá-lo:


『明日は休みですから少し遅くまで寝ます。』


A tradução em si continua a mesma, mas a nuance é bem, mas bem diferente. Mas como assim, 『せっかく』 faz tanta diferença assim?

Sim. É um termo empregado para enfatizar o núcleo da frase; no caso, ressalta que "já que amanhã é um precioso dia de folga", a decisão é de dormir até mais tarde, e não simplesmente uma explicação.

Outro exemplo:


せっかくの高級(こうきゅう)ビールだからあの専用(せんよう)グラスで飲(の)もう。』

"Como é uma cerveja fina, vamos beber naquela taça especial."


Aqui foi adicionado 『』 por preceder um substantivo, a 高級ビール. Mais uma vez, o termo em questão poderia ser cortado sem alterar a tradução, mas a pessoa não estaria dando tanto valor à tal da cerveja fina.

Como podemos empregar algo equivalente em português? É difícil! Tanto é que, não raramente, dá vontade de dizer:


"せっかく você me convidou para a confraternização e não pude ir!"


わかりますか? Assim, estou aumentando meu sentimento de lamentação por não ter ido, o que em português, não raramente vira um termo chulo ou mesmo palavrão: ", você me convidou e...".

Existem vários termos assim, que em português não existem, mas que expressam com precisão aquilo que queremos dizer. Claro, no sentido inverso também existem alguns termos sim, embora eu não saiba dar exemplos nesse momento!

Para fixar, mais um exemplo:


せっかく2時間(じかん)も列(れつ)で待(ま)ちましたから、爆発(ばくはつ)するまで食(た)べましょう!』

"Já que esperamos duas horas na fila, vamos comer até explodir!"


オッケーですか?

じゃ!

sábado, 6 de agosto de 2011

Como dizer? #008 - Na pior das hipóteses

Post rápido!

A questão é: como dizer a expressão "Na pior das hipóteses", em japonês?

Vejamos uma frase de exemplo:


"Na pior das hipóteses, vou ao cinema sozinho!"


Aliás, vocês se importam em ir ao 映画館・えいがかん, cinema, sozinhos? Eu não, nem um pouco. Prefiro ir sozinho a perder um bom filme no cinema!

Mas enfim... a frase ficaria algo assim:


最悪(さいあく)の場合(ばあい)、一人(ひとり)で映画館へ行(い)きます。』


最悪』 é a junção de 『』, que tem o sentido de superlativo, e 『悪いわるい』, "mau, ruim". Já 『場合』 pode ser traduzido como "caso, situação", mas nesse caso equivale a "hipótese".

Outros exemplos:


最悪の場合、飛行機(ひこうき)が遅(おく)れて、空港(くうこう)で3時間(じかん)ぐらい待(ま)ちます。』

"Na pior das hipóteses, o voo vai atrasar, e vamos esperar umas 3 horas no aeroporto."


最悪の場合、何(なに)も買(か)わず、ただ見(み)て回(まわ)ります。』

"Na pior das hipóteses, só vou dar uma olhada, sem comprar nada."


オッケーですか?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O que não fazer no Japão

みなさん、ごぶさたしております。

Faz tempo mesmo desde o último post, por isso àqueles que ainda me acompanham fielmente, peço desculpas pelo relaxo. É verdade que, nesse meio tempo, teve até 結婚式けっこんしき, casamento, do meu 兄・あに, irmão mais velho, mas só isso não justifica minha ausência!

Mas, para me redimir, concluí um post até interessante, sobre coisas que não devem ser feitas no 日本. Para quem se perguntou "Mas e quanto às coisas que devem ser feitas no 日本?", basta fazer uma busca pelo blog, mas num breve futuro, pois é um post que ainda não fiz!

Bom, vamos lá:


1. Não chegue atrasado a compromissos.

Se você marcou um encontro, pessoal ou profissional, faça de tudo para ser pontual. Diferentemente do Brasil, um compromisso às 16:00, por exemplo, começa às 16:00, e não às 16:15.


2. Não erre o nome das pessoas.

Errar ou confundir o nome dos outros é uma gafe que deve ser evitada em qualquer país ou cultura, mas especialmente no Japão, e mais especialmente ainda se tratando do sobrenome. Por quê? Porque lá, por lei, as pessoas podem ter apenas um sobrenome e um nome (salvo o caso de mestiços, que sinceramente não sei como funciona), o que os torna muito orgulhosos em relação a cada um.

Portanto, na dúvida, é até menos pior não chamar um 中田(なかた)さん pelo nome do que chamá-lo de 田中(たなか)さん.


3. Não fale alto em público.

Isso, para mim, deveria ser cultivado no mundo inteiro; é o princípio de que ninguém além do(s) seu(s) interlocutor(es) têm a ver com a sua conversa, portanto não precisam escutá-la. No Brasil, não são raras as situações que beiram o ridículo, com pessoas que berram pra que todos no recinto saibam de sua maravilhosa viagem a Paris (que muitas vezes foi parcelada em 10x pela CVC) ou do seu carro importado recém-comprado (em 80 parcelas).


4. Não fale ao celular em transportes públicos.

Tem a ver com o tópico acima, mas é mais específico: a norma japonesa diz que em trens, metrôs, ônibus etc. o celular pode ser usado para e-mail, SMS, navegar na internet, jogos (sem som ou com fone de ouvido) etc., mas não para ligações.


5. Nunca presenteie um japonês com CD de sertanejo.

"Nunca" significa jamais, em hipótese alguma. A não ser que você queira passar vergonha, nem sequer cogite dar um CD de dupras çertanejas a um nativo, pois ele pode até dizer depois que gostou, mas pode ter certeza que será só por educação. Além disso, essa epidemia que se alastrou no Brasil é problema exclusivo do Brasil; vamos colaborar e poupar o Japão desse desgosto.

Se quiser mesmo comprar um CD como プレゼント, escolha algo de bom gosto, como Tom Jobim, Chico Buarque, Elis etc.


6. Não olhe fixamente nos olhos da pessoa com quem está conversando.

Isso pode soar como o inverso da lógica ocidental, e é mais ou menos por aí. Olhar fixamente nos olhos, o que lá é chamado de 『ジロジロ見(み)』, é considerado desrespeitoso, pois pode deixar a pessoa constrangida. Portanto, olhe nos olhos, mas lembre-se de desviar o olhar com certa frequência.


7. Não cumprimente as mulheres com beijinho.

Por mais que você esteja acostumado a dar beijinhos nas amigas brasileiras, jamais tente reproduzir isso com as japonesas, a não ser que você queira correr o risco de ser acusado de セクハラ, "sexual harassment". Ainda que o Japão tenha se ocidentalizado bastante, especialmente nas últimas duas décadas, eu, particularmente, duvido que algum dia esse hábito fará parte dos seus cumprimentos rotineiros.


8. Não fume em qualquer lugar.

Os japoneses são muito estressados, e uma das consequências disso é a alta porcentagem de fumantes. Mas isso não quer dizer que é permitido acender um cigarro em qualquer lugar; é importante observar as placas nas calçadas, e se atentar para os fumódromos estrategicamente localizados.


9. Nunca dirija alcoolizado.

A lei japonesa, diferentemente da nossa magnífica legislação brasileira, não é tolerante com assassinos que enchem a cara e saem cometendo barbaridades à vontade pelas ruas e rodovias. Fiz uma breve pesquisa na Wikipédia, e a lei contra idiotas alcoolizados funciona da seguinte maneira:

Se, no teste de bafômetro, forem detectadas entre 15 a 25 mg de álcool, a pena é de até 3 anos de cadeia ou multa de até ¥500.000 (cerca de R$10.000).

Mas se for superior a 25 mg, são até 5 anos ou ¥1.000.000, o dobro do valor. Sim, acho que sai mais barato pegar um táxi, a não ser que você esteja em uma 居酒屋・いざかや em Tóquio e more em Hiroshima.


Claro, isso é apenas a minha percepção, e todos são livres para discordar! Aliás, ia escrever 10 tópicos, mas em vez disso, vou deixar aberto para quem queira compartilhar algum ponto de vista ou experiência pessoal! おねがいします!





quinta-feira, 21 de julho de 2011

Expressão: 『…ものの、』

Apenas para variar de vez em quando, vamos voltar um poucos às origens?

昔・むかし, antigamente (leia-se: 2 anos atrás), eu costumava postar expressões em nihongo e explicar o significado em português, seguido de alguns exemplos. Pois bem, vamos ver um 表現ひょうげん que possivelmente muita gente já ouviu:


『~ものの


Aqui, 『もの』 não tem nada a ver com , como em 『建物たてもの』, "construção", ou com , como em 『若者わかもの』, "jovem".

Uma aplicação:


『彼(かれ)は5年間(ごねんかん)もフランス語(ご)を勉強(べんきょう)したものの、ほんの少(すこ)ししか話(はな)せません。』


Qual é a relação existente entre as duas orações? A primeira, 『彼は5年間もフランス語を勉強した』, diz:


"Ele estudou francês durante 5 anos"


Já a segunda, 『ほんの少ししか話せません』,


"Sabe falar muito pouco."


Ora, se a pessoa estudou tanto tempo de um idioma, seja qual ele for, espera-se que ela saiba falar um pouco mais que "muito pouco", certo? Portanto, a relação é de adversidade, que é estabelecida justamente pela conjunção em questão:


"Ele estudou francês durante 5 anos, mas sabe falar muito pouco."


Mas vale lembrar que é uma conjunção bastante formal, então no dia-a-dia, seria mais comum ouvir algo como:


『彼は5年間もフランス語を勉強しましたけど、ほんの少ししか話せません。』


A frase continua formal, mas com menos cara de "linguagem de noticiário". Aliás, podem reparar que, na NHK, por exemplo, é bem comum ouvir frases como:


『住民(じゅうみん)たちは反対(はんたい)したものの…』

"Apesar dos moradores terem sido contra..."


『ブラジル代表(だいひょう)は最後(さいご)まで戦(たたか)ったものの…』

"Apesar da seleção brasileira ter lutado até o final..."


オッケーですか?

Post curto e meio... sério demais, mas espero que tenha sido útil!

じゃ!

sábado, 16 de julho de 2011

Sobrevivendo no comércio japonês - Parte III

Dando continuidade à série supracitada, vamos ver algumas das frases mais comuns na hora de pagar a conta.

Você se dirige ao caixa, e possivelmente é recebido pelo(a) caixa com:


お待(ま)たせ致(いた)しました。』


Essa é uma frase padrão que expressa um sentimento de lamentação por ter feito o cliente esperar, mesmo que isso não tenha acontecido. Claro, se de fato você ficar plantado em pé na fila, aí o pedido de desculpas vai ficar mais evidente.

Na seqüência, vamos supor que sua conta tenha dado ¥5680:


ごせんろっぴゃくはちじゅうえんになります。』


Naturalmente, você não é obrigado a entender o valor por extenso, porque ele é exibido em kanji:


五千六百八十円


...mentira. Isso só devia acontecer antes da 2ª Guerra, e olha lá. Hoje em dia até eles mesmos preferem exibir os números em algarismos arábicos, deixando de lado a complexidade dos ideogramas, por motivos óbvios.

Há algumas variações nessa fala, claro. Se for em uma コンビニ, loja de conveniência, não deve fugir muito da frase acima, mas se for um lugar um pouco mais requintado, digamos, poderia ser:


ごせんろっぴゃくはちじゅうえん頂戴(ちょうだい)(いた)します。』



"Mas como assim?", alguém pode perguntar. Afinal de contas, 『ちょうだい』 não é uma forma infantil de pedir as coisas? Pode ser, mas também pode ser utilizada da maneira acima, em um situação bem formal. Pois é, o japonês tem as suas facetas curiosas!

Bom, supondo que você entregue uma nota em que 福沢(ふくざわ)諭吉(ゆきち) está impresso,

deve ouvir como resposta:


一万円(いちまんえん)をお預(あず)かりします。』


Outra frase sem tradução direta, mas é mais ou menos como:


"Estou recebendo 10 mil ienes."


Até hoje dói um pouco no ouvido a palavra "ienes", mas tudo bem.

O おつり, troco, ficaria em ¥4320, portanto:


よんせんさんびゃくにじゅうえんのお返(かえ)しです。』


返します返す é o verbo "devolver, retornar".

Finalmente, vem a parte mais importante, que jamais pode faltar:


ありがとうございました。』


Não preciso traduzir, claro, mas um 質問・しつもん - dúvida - que pode surgir é: "Por que 『ございましたe não 『ございます』?". De fato, é meio difícil explicar a diferença entre as duas expressões; 『ました』 remete ao passado, mas não é tão simples assim.

Aliás... nesse caso até poderia ser dito 『ありがとうございます』, ainda que 『ございました』 seja mais comum (se não me falha a memória). Bom, enquanto não tenho uma explicação convincente do porquê de um e não de outro, digo o seguinte: é bem improvável que você saia de uma loja no Japão com o sentimento de que você acabou de fazer um favor, como costuma acontecer muito por aqui.

Embora um simples "obrigado" possa não parecer tão relevante, no 日本, a sua omissão já justifica uma bela demissão. Não que eu conheça algum exemplo real disso, mas quem conhece um pouco da cultura de lá sabe que não seria um absurdo.

Absurda é a cultura brasileira: "Se EU não sou tratado bem como cliente, por que vou me dar o trabalho de tratar os meus clientes bem?". Não em todos os lugares, eu sei, mas é o que predomina.

Bom, para concluir, o(a) atendente pode complementar com:


またお越(おこ)しくださいませ。』

ou

またお願(ねが)いします。』


Ou outras variações, mas o que querem dizer é basicamente "Volte sempre."

Acho que ainda há conteúdo para mais um post, que novamente espero fazer em menos de 10 dias! :)

では。

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Como dizer? #007 - "É questão de tempo..."

Esses dias ando meio ocupado à noite, o que dificulta um pouco as postagens. Mas para não passar a semana em branco, aqui vai um post bem simples, da série "Como dizer?".

A pergunta de hoje é:


"Como dizer 'É questão de tempo!'?"


Não lembro exatamente por quê, mas pensei a respeito disso hoje e decidi transformar esse pensamento num ポスト.

...aliás, tive outro pensamento agora: 『ポスト』 se refere a "post", mas também a "posto", como em "posto de gasolina", certo?

ERRADO.

Se você parar na rua pra pedir informação e soltar:


『すみません、ポストはどこにありますか?』


Hmm... Se a pessoa tiver um pouco de conhecimento de inglês, vai indicar o caminho para um post office, ou seja, para um correio!

Para que isso não aconteça, o certo seria perguntar:


『すみません、ガソリンスタンドはどこにありますか?』


Sim, a palavra é 『ガソリンスタンド』. Mas engana-se quem pensa que isso vem do inglês, porque em 英語・えいご não existe "gasoline stand" nem algo parecido (em inglês americano é "gas station", e em britânico, "petrol station").

Simplesmente foi um termo inventado pelos japoneses no século XX, mas desconheço a origem exata ou o porquê. Bom, eles usam a criatividade até mesmo para cunhar termos, isso é fato.

Mas voltando... A expressão em questão é quase uma tradução literal, por incrível que pareça:


時間(じかん)の問題(もんだい)


時間』 é "tempo", e 『問題』, "problema".

Frase de exemplo:


『カリフォルニア周辺(しゅうへん)で大(おお)きな地震(じしん)が起(お)きるのは時間の問題だと言(い)われています。』

"Diz-se que é questão de tempo para que aconteça um grande terremoto na região da Califórnia."


Ah, a frase se refere ao Big One, previsto para realmente acontecer daqui a algumas décadas.

Outra frase:


『スペシャリストによると、この会社(かいしゃ)の株価(かぶか)が落(お)ちるのは時間の問題だそうです。』

"Segundo especialistas, é questão de tempo para que o valor das ações dessa empresa caia."


Agora que me dei conta... que frases mais desastrosas! Mas tudo bem, são apenas 例・れい, exemplos.

Ok? Espero que consigam utilizar a expressão de hoje na prática!

では!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Como dizer? #006 - "Não liga não!"

Antes de terminar a série "Sobrevivendo no comércio japonês", vamos ver mais um post "Como dizer?"; a expressão de hoje é:


"Não liga não!"


Alguém pode dizer: "Eu sei! É 電話(でんわ)しないで!』", ou algo parecido, o que seria certo se a frase em questão fosse no sentido de telefonar.

Como aqui o que interessa é dizer "Não dê bola", fica bem diferente:


(き)にするな!』


Pois é, esse 『』 aparece em vários lugares, com múltiplos significados. Compõe as palavras "ar", 『空気・くうき』; "Aikidô", 『合気道』; "sentimento", 『気持ち・きもち』 etc. Não me perguntem por quê. Nem tudo em nihongo faz sentido, infelizmente.

Mas vejamos umas frases de exemplo:


『昨日(きのう)のことは気にするなよ、大(たい)したことじゃないから。』

"Não ligue sobre ontem não; não é nada importante."


Ah sim, o 『するな』, em que 『』 indica "proibição", é uma forma bastante informal. Mas a expressão pode ser formal também:


『先生(せんせい)はいろいろ変(へん)なことを言(い)いますけど、

なるべく気にしないでください。』


"A professora fala algumas coisas estranhas, mas procure não ligar."


Na região de 関西・かんさい, o mais natural seria escutar algo como:


『何(なん)やねん、そんなこと気にせんでええがな!』


Nem parece o mesmo idioma, mas é. "Traduzindo" para o 標準語ひょうじゅんご, japonês padrão, seria mais ou menos:


『何(なに)それ、そんなこと気にしなくてもいいよ!』

"Que é isso, não precisa dar bola pra essas coisas!"


Pois é. Coitado de quem aprende japonês no Brasil e vai direto pra 大阪おおさか, por exemplo. Deve se sentir perdidinho.

Comentei um pouco do regionalismo de 関西 (conhecido como 関西弁かんさいべん) porque é bem interessante e engraçado; em breve farei um post dedicado a isso.

Bom, acho que por hoje é só. E nem levei 10 dias para postar, viram só?

では!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sobrevivendo no comércio japonês - Parte II

Puxa vida, e lá se vão mais 10 dias desde a última postagem... Mas antes esporadicamente do que nunca, certo?

Bom, conforme comentei no finalzinho do último post, vamos ver mais algumas frases que podem ajudar a vida de quem passeia pelo Japão.

Tínhamos visto até 『以上でよろしいですか?』, o que pode ser respondido com um simples 『はい。』. Claro, se quiser adicionar algo, pode dizer, por exemplo:


あっ(あと)ごはんを一杯(いっぱい)お願(ねが)いします。』


A pronúncia é importante, nesse caso. Se disser /i.'ppai/, com ênfase no "pai", vai soar como 『いっぱい』, o que dá a entender que você quer um monte de arroz. Aqui é /'i.ppai/, com o "i" mais forte. é uma medida, uma dose, ou uma tigela (ちゃわん), como no caso. Portanto:


"Ah, e ainda, me veja uma tigela de arroz, por favor."


Aí, é de se esperar que o garçom ou garçonete diga uma das frases imprescindíveis:


かしこまりました。』


Acompanhado por:


少々(しょうしょう)お待(ま)ちください。』


Seria algo como: "Entendido. Por favor aguarde alguns instantes."

Ah sim, esqueci de comentar, mas uma pergunta bastante comum, logo após entrar no estabelecimento, é:


禁煙席(きんえんせき)と喫煙席(きつえんせき)がございますが。』


Calma. Apesar de parecer palavras complexas, não chega a tanto. Acho que já comentei que o kanji 『』 sempre indica proibição, como em 『(た)(い)り禁止(きんし)』, "proibido entrar". Já 『』 também é lido como 『けむり』, "fumaça". Aí fica fácil entender:


"Temos ala de não fumantes e fumantes..."


É, não é uma pergunta, mas é uma maneira muito usada para averiguar a opinião ou preferência de alguém, terminando a frase com 『』. Por exemplo:


『アイフォーンは白(しろ)と黒(くろ)があります。』

"Temos iPhone branco e preto..."


Entendem? Deixa implícita a pergunta どちらにしますか?』, "Qual você gostaria?".

Voltando ao assunto anterior, vejamos...

Como pedir a conta?

Bom, é de se esperar que o gesto universal de "Me veja a conta!" funcione, e de fato funciona. Mas se quiser caprichar, pode dizer:


お会計(かいけい)の方(ほう)(おねがいします)。』


Mais uma vez, podemos deixar uma parte implícita; no caso, o 『お願いします』. O importante aqui é a palavra 『会計』, que é a conta em si.

Talvez alguém pergunte: "Mas e 勘定(かんじょう)』, não se usa?". Eu diria que... não, não muito. Acredito que seja uma palavra que tenha caído em desuso, pois é fato que quase não se ouve falar dela no Japão de hoje em dia (pelo menos pela minha experiência).

Ah, no Japão não existe taxa de serviço, tampouco gorjeta. O que pode ser cobrado além do valor consumido é o 消費税しょうひぜい, o imposto de 5%, embora em muitos casos ele já esteja embutido.

Lembro de uma vez, há mais de 15 anos, quando fui comprar uma barrinha de chocolate que custava ¥100 (e até hoje continua o mesmo preço), aproveitando o fato de ter justamente uma única moeda de ¥100 no bolso. Fui lá todo contente pagar, mas... a tia se recusou a vender a mísera チョコレートバー por causa de ¥3 de imposto! Pois é... foi assim, na prática, que eu aprendi o a palavra 消費税.

Ah sim, a taxa subiu de 3 para 5% no ano de 1997, se não me engano.

Bom, acho que a próxima parte seria o pagamento em si, mas... acho que já ficou meio longo, então vou deixar para a terceira e última (talvez penúltima) parte desse assunto! Prometo não demorar 10 dias até a próxima postagem. 約束(やくそく)です

それでは!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sobrevivendo no comércio japonês

Uma das coisas mais admiráveis do Japão, que eu sempre fiz questão de ressaltar por aqui, é a postura dos lojistas e comerciantes diante de seus clientes. Quem já esteve lá sabe do que estou falando: de um modo geral, eles são extremamente cordiais, educados e eficientes igualzinho aqui no Brasil.

Mas também é verdade que, sem conhecer algumas palavras e expressões-chave, uma simples compra em território japonês pode se tornar uma verdadeira missão.

Se você é ocidental, pode se preparar que possivelmente o(a) atendente vai tentar se comunicar em inglês, mas infelizmente, na maioria das vezes esse inglês tende para o famoso Engrish. Assim sendo, é melhor ter uma noção das frases mais comumente usadas.

Claro, é impossível prever com exatidão o que o(a) atendente vai falar, mas vamos ver algumas possibilidades?

Ao entrar no estabelecimento, é regra escutar um 『いらっしゃいませ』, "Seja bem-vindo". Aliás, até em alguns restaurantes da Liberdade, em São Paulo, é possível ser saudado assim.

Supondo que seja um restaurante, a primeira pergunta feita pelo garçom deve ser:


何名(なんめい)(さま)ですか?』


』: "Quantos", 『』: contador específico para clientes, 『』: tratamento formal. Portanto:


"Seriam quantas pessoas?"


A resposta pode ser 『1名(いちめい)』, 『2名』, 『569名』 etc. Ah sim, acompanhado por 『です』.

Na sequência, quando já estiver acomodado na mesa, é entregue o indispensável おしぼり:


Cuidado! Já ouvi relatos de pessoas que, inocentemente, acharam que se tratava de uma espécie de aperitivo, e foram direto dando uma dentada.

Hm... é, pelo fato de ser enrolado todo bonitinho, quente (eles são literalmente cozinhados em uma máquina, antes de serem entregues aos clientes) e branquinho, até que... não, não. É para limpar as mãos e, no máximo, o rosto.

Bom, depois que você der uma olhada no メニュー, menu, o garçom ou garçonete irá anotar os pedidos, e possivelmente perguntar:


お決(き)まりですか?』


Muita calma nessa hora.

A pergunta é simplesmente:


"Decidiram?"


Hoje em dia, boa parte dos restaurantes oferece cardápio em inglês, o que pode vir a facilitar bastante. Para fazer o pedido, é bem simples:


カレーライスを一(ひと)つと(や)き魚(ざかな)定食(ていしょく)を一つ。』

"Um curry-rice e um yakizakana teishoku."


Só um exemplo, claro. Quanto à próxima pergunta, há grandes chances de ser:


お飲(の)み物(もの)?』

"E para beber?"


Existem várias opções, geralmente. Mas uma recomendação é:


(なま)(ふた)。』


』 é o kanji de energia, ou mesmo vida, mas engana-se quem pensa que vai vir algo ainda se debatendo. 『生・なま』 é o reduzido de 『生ビール』, "chopp". Pela minha experiência, os 生 do Japão são muito bons, e vêm servidos em canecas super geladas. Geralmente é uma opção melhor que ビンビール, cerveja em garrafa.

Bom, a próxima pergunta pode ser:


以上(いじょう)でよろしいですか?』

"Algo mais?"


A tradução literal não é bem essa, mas o sentido é bem esse.

さて, acho que o post já ficou longo. Melhor quebrar o assunto em algumas partes!

それでは!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Títulos de filmes americanos no Japão

Quem é cinéfilo como eu deve compartilhar a opinião de que, muitas vezes, os títulos brasileiros que as produtoras inventam são simplesmente ridículos. São incontáveis exemplos, mas os mais recentes que me vêm à cabeça agora são "Atração Perigosa", The Town, com Ben Affleck e Jeremy Renner, e "A Origem", Inception, que dispensa apresentações.

The Town, aliás, é um ótimo filme, muito bem dirigido pelo péssimo ator Ben Affleck, que recebeu críticas muito positivas no ano passado, mas convenhamos: "Atração Perigosa" é um título tão vergonhosamente ruim que acaba repelindo muito espectadores, especialmente aqueles que não costumam ler resenhas de cinema.

A questão é: e no Japão, como ficam os títulos de produções americanas?

Não sei se existe uma regra, mas pelo que observo desde a década de 90, o que prevalece é o bom senso: se a tradução literal ficar muito non-sense, recorre-se ao katakana. Mas ultimamente andei pensando no inverso: e se fosse igual ao Brasil, e praticamente todos filmes fossem traduzidos para o nihongo?

É, o resultado seria um tanto quanto estranho, como podemos ver abaixo:


『星戦争・ほしせんそう』


『喧嘩(けんか)クラブ』


おもちゃ物語(ものがたり)


ライヤン兵士(へいし)の救助(きゅうじょ)


(ころ)しにくい
(*do português "Duro de Matar")


(かみ)の町(まち)


カリブの海賊(かいぞく)たち


い・きちがい


『七・なな


『怒(いか)った雄牛(おうし)


『象男・ぞうおとこ』


『蜘蛛男(くもおとこ)(さん)


『黒(くろ)っぽい騎士(きし)


『ほぼ有名(ゆうめい)
("Almost Famous", que virou 『あの頃(ころ)ペニー・レインと』)


蝿・はえ


独立記念日・どくりつきねんび


速さ・はやさ


Enfim, são muitos casos! Sorte deles que têm katakana, e azar o nosso, que temos que aguentar títulos esdrúxulos...