quarta-feira, 30 de junho de 2010

Entenda um pouco da situação econômica japonesa

O Japão passa por um momento delicado. Foi novamente esta a afirmação do professor do curso que concluí hoje.

Mas não é de hoje que a economia japonesa anda mal das pernas; na verdade, aqui existe a expressão "Os 20 Anos Perdidos", ou até 25, dependendo do autor. Refere-se à desaceleração do crescimento econômico observada desde o final dos anos 80, período em que, ironicamente, começou a crescer o número de dekasseguis brasileiros em solo nipônico. Os mais pessimistas (ou realistas) falam em 25 porque consideram que a situação atual deve continuar pelo menos até 2015.

Não é difícil entender o problema que o Japão enfrenta. Claro, existem muitos fatores sobre os quais eu não tenho o menor conhecimento, mas vou tentar expor o pouco que sei, de maneira bem simplificada.

A taxa de natalidade (出産率、しゅっさんりつ) do país, embora tenha demonstrado pequenos crescimentos nos últimos anos, mal tem sido suficiente para manter a população (que está na casa dos 127 milhões). Isto, somado a uma das expectativas de vida mais altas do mundo, resulta em...?

Queda da população total, com maior participação de idosos. Isto não seria tão ruim se o Japão não fosse um país tão próspero como é. Epa, como assim?

É simples: após a Segunda Guerra Mundial, o Japão conseguiu se reconstruir de uma maneira bastante homogênea, o que resultou em uma sociedade economicamente nivelada, sem grandes desigualdades ou concentrações de renda.

O reflexo deste processo é justamente o que se vive hoje, pois as empresas nacionais, que foram os pilares do crescimento sem precedentes, não têm mais como se expandir dentro do próprio país. Afinal, todo mundo tem de tudo; a prova disso é a quantidade de produtos supérfluos que são jogados no mercado, numa tentativa de encontrar novos nichos.

A saída óbvia para este processo natural (pelo qual o Brasil não vai passar tão cedo, daí a enorme expectativa a nível mundial) seria a internacionalização de empresas de médio porte (ou mesmo grande porte) que ainda se limitam ao mercado interno. No entanto, além da concorrência que tende a ficar cada mais acirrada com a inclusão de países emergentes, como - principalmente - China, Coréia do Sul, Vietnã, Cingapura etc., há a relutância japonesa de explorar novos mercados no exterior.

Não fica muito claro o motivo disto, mas talvez um deles seja a dificuldade com a comunicação com países estrangeiros. Enquanto empresas coreanas como a Samsung, por exemplo, enviam seus funcionários para os quatro cantos do planeta, com um único objetivo, o de aprender sobre a cultura local e assim poder adaptar seus produtos aos costumes nativos, (processo conhecido como Glocalization), o Japão parece estar de braços cruzados e vendo os possíveis futuros líderes de mercado ganhando cada vez mais espaço.

De uma maneira mais objetiva, o professor de hoje disse que a projeção para daqui a 10 anos é que cada segmento do mercado japonês tenha apenas duas ou três grandes empresas. Por exemplo, no setor automobilístico, provavelmente ficariam (ou ficarão?) a Toyota, Honda e Nissan (ou Mitsubishi), com as demais sendo compradas ou mesmo falindo.

Eis o que acontece por aqui, de uma maneira bem superficial. Pra mim, foi extremamente interessante poder entender este fenômeno, que assombra o Japão há tanto tempo, de uma perspectiva interna; embora ela não seja nem um pouco animadora.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Algumas fotos de Tóquio.

『ご無沙汰(ぶさた)しております。』


Pode não soar, mas esta é uma expressão muito utilizada, e significa algo como "Ando meio ausente ultimamente". Não que eu esteja extremamente atarefado a ponto de não conseguir atualizar o blog, mas quase isso; afinal, estando em Tóquio, opção de lazer é o que não falta.

Vou postar algumas fotos de ontem, quando fiz a estreia da minha câmera nova (oficialmente é da minha mãe, mas fica como sendo minha até eu voltar ao Brasil!).


Bom, vamos lá. Essa acima talvez não precise de apresentação, mas é a Tokyo Tower, erguida em 1958 por esse senhor:

Olhem bem para a foto... é um boneco de cera! Fica no museu localizado logo abaixo da torre, e é relativamente barato para entrar: ¥500, algo em torno de R$10.

Em princípio, não me interessei muito, mas quando li que lá estavam os bonecos dos Beatles, usados na capa do disco que é considerado o melhor de todos os tempos, Sgt. Pepper's...


Tinha também um certo guitarrista cuja técnica foi divisora de águas no mundo do Rock:


Foi impressionante... foram os 500 ienes mais bem investidos até agora, talvez.

Lá de cima, na Tokyo Tower, existem dois níveis de 展望台(てんぼうだい), local de observação; a 150 e a 250 metros de altura. Esta foto abaixo é do luxuoso Roppongi Hills, mega-empreendimento de U$4 bi inaugurado em 2003, 17 anos após sua concepção inicial:


Depois disso, fomos para a estação de Tóquio, que fica logo à frente do Palácio Imperial. No caminho, tirei a seguinte foto:


Se eu dissesse que é de um hotel 5 estrelas, seria menos surpreendente, pois é a passagem subterrânea do metrô de Tóquio. Incrível, não?


Eis uma passagem da região chamada (まる)の内(うち), muito valorizada e, como pode-se observar, limpa.

Já estava anoitecendo, e aproveitei para testar a máquina; até que consegui alguns resultados bons:


Lago à frente do Palácio. Fica bem escuro, mas nem por isso você se sente com medo de usar uma câmera semi-profissional novinha no meio da rua.



Eu não sabia como é divertido tirar fotos; só ontem, foram quase 250.

Para finalizar, uma foto que é uma verdadeira tentação:


É isso aí! Dentro de instantes, Holanda x Eslováquia, portanto... 失礼(しつれい)します!:)

terça-feira, 22 de junho de 2010

Intermediário - 『この新しいカメラ…』

Um post gramatical, para matar as saudades:


『この新(あたら)しいカメラ、やっぱり使(つか)い易(やす)いですね。』

『そうですね。あの古(ふる)いモデルはつかみにくいですしね。』



Muito bem. É um diálogo que fala sobre uma新しいカメラ, "câmera nova". Mas o mais importante é o trecho 使い易い, bem como つかみにくい.

Os verbos usados são, respectivamente, 使うつかいます, "usar", e 『つかむつかみます』, "segurar". O que acontece é que eles estão combinados com易い eにくい, que são antônimos.

Este やすい não tem nada a ver com 安い de "barato"; eにくいpode ser escrito também na forma 難い, o kanji de (むずか)しい. Daí fica fácil deduzir o sentido das expressões:


"Essa câmera nova é mesmo fácil de usar, não?"

"É verdade. E aquele modelo antigo é difícil de segurar."


E isso é muito fácil de ser usado, pois basta seguir o mesmo padrão:


Verbo na Forma ます-ます+やすい/にくい


Ou seja:

(よ)みやすい(ほん), "Livro fácil de ler";

(こわ)れにくいケイタイ』, "Celular difícil de quebrar";

(わす)れやすい名前(なまえ), "Nome fácil de esquecer";

(おぼ)えにくい漢字(かんじ), "Kanji difícil de memorizar".


Pensei agora... na verdade, acho que é mais comum que やすいseja escrito em hiragana mesmo.

E outro ponto importante: oにくい pode ser substituído por づらい, praticamente sem alteração de sentido!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Japão e as invasões bárbaras

Ontem participei de uma palestra do dono (社長、しゃちょう) de uma empresa de 仏壇(ぶつだん), aqueles altares budistas (tive que procurar no dicionário esta tradução, confesso!) usados principalmente em velórios (葬式、そうしき).

Achei que ele fosse focar na questão administrativa da empresa, que é líder do setor no Japão, mas não. Ele tratou da questão cultural japonesa, sob uma perspectiva muito interessante, de quem já viveu bastante (está com 70 anos de idade) tanto aqui quanto no exterior.

Quem me segue no Twitter pode ter visto que o conteúdo não foi muito animador, pra dizer a verdade. Deve ser de conhecimento de todos que, desde os anos 90, a economia japonesa está estagnada, bem longe do crescimento vertiginoso observado a partir dos anos 60, quando o país chegou a crescer 11% ao ano, superando a taxa atual da China. Tanto é verdade que hoje se fala dos "20 anos perdidos" (desde 1990), ou 25, supondo que a situação vai continuar ruim até 2015.

Existe a questão da dívida externa, que chega a 90兆円(ちょうえん), ou ¥90.000.000.000.000, 90 trilhões de ienes, algo em torno de 1 trilhão de dólares. É uma cifra que assusta pela quantidade de zeros, mas não se trata de um problema unicamente econômico; ou seja, é bem mais complicado.

Não sou economista nem sociólogo pra me aprofundar na questão, mas o que pude absorver é que falta atitude na geração atual (ou "geração Y", rótulo que não me agrada), bem diferente dos baby-boomers (nascidos após a Segunda Guerra), que suaram a camisa pra reerguer o país das cinzas.

Um dos principais fatores levantados pelo palestrante Sr. Hasegawa é a invasão cultural ocidental, principalmente americana. Isto não é surpresa, é só comparar o comportamento dos jovens de hoje e da geração anterior; mas ele contou algo que eu - e aparentemente nenhum dos ouvintes - sabia.

É o seguinte: durante a guerra sino-japonesa, na década de 1930, muitos japoneses se instalaram em Taiwan e por lá ficaram. Estranhamente, parece que, apesar disso, os taiweses não encaram os nipônicos como invasores (o que, na prática, foram), pois a cultura local mudou positivamente após esta fusão. O que se relaciona com a situação atual é que, no final das contas, após a ocidentalização agressiva iniciada nos anos 1990, onde foram parar os japoneses "autênticos"?

Sim, em Taiwan.

O Sr. Hasegawa disse ter amigos que regressaram ao Japão, depois de muitos anos morando em Taiwan, e ficaram chocados com o que viram. Acho que eu também ficaria.

Claro, o Japão ainda conserva muitos aspectos positivos que vêm sendo herdados há séculos, como a questão educacional, que é modelo para muitos países (talvez não o Brasil, infelizmente), e claro, o respeito entre as pessoas. Aliás, ele confirmou algo que eu supunha: o japonês é idioma com o menor número de palavras ofensivas do mundo.

É algo para se orgulhar, mas os japoneses parecem não ter a mínima noção disso. Se eles soubessem da criatividade insuperável que o povo brasileiro tem para criar palavrões, talvez eles dariam mais valor à finesse de sua língua nativa. Eu acho deplorável este aspecto brasileiro, que insiste em deturpar o idioma português cada vez mais.

Aliás, ele fez questão de ressaltar outras qualidades como esta, que para quem sempre viveu aqui, são mais difíceis de serem valorizadas. Sobre a questão da segurança, por exemplo, ele disse:


『日本だけすよ、女(おんな)の人(ひと)が一人(ひとり)で、夜(よる)

自由(じゆう)に街(まち)を歩(ある)き回(まわ)れるのは。』


"É só no Japão que as mulheres podem andar sozinhas pela cidade, livremente, à noite!"


E é verdade. Chega a ser estranho ver mulheres indefesas, algumas até idosas, andando tranquilamente por ruas escuras à noite.

Outra coisa que ninguém parecia saber é o fato Japão da Era Edo (江戸時代、えどじだい), de 1603 a 1868, ter sido considerado o país mais rico do mundo, em termos culturais. Foi uma autoavaliação? Não, não, isto sob a ótica de um estudioso ocidental da época (cujo nome acabei esquecendo).

Ou seja, a mensagem que ele quis passar, pelo que entendi, foi:


"Tenham orgulho de seu país e se mexam!"


Resta saber se os demais ouvintes também interpretaram assim, né?

Enfim, foi uma palestra que me fez, mais uma vez, refletir sobre os problemas socioculturais que assombram o futuro do Japão, e que são totalmente diferentes daqueles enfrentados no Brasil.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fotos de Hiroshima e algo mais.

Ok, esse post eu dedico pro Akira-san, que me cobrou as fotos de Hiroshima! :)

Como já devo ter falado algumas vezes por aqui, eu morei na província de Hiroshima dos meus 9 aos 14 anos, mas não exatamente na cidade que em 6 de agosto de 1945 foi reduzida a pó pela bomba "Little Boy", e sim mais para o leste. Logo abaixo tem algumas fotos da minha mini-ex-cidade.

Este é o famoso 原爆(げんばく)ドーム, um dos únicos prédios que ficaram inteiros após a explosão da bomba. O nome 原爆 vem de 原子(げんし)爆弾(ばくだん), "Átomo" e "Bomba", que juntos significam "bomba atômica", naturalmente.

Logo ao lado, fica o Parque Memorial da Paz, 平和(へいわ)記念(きねん)公園(こうえん).

Junto ao parque, tem o museu da bomba atômica, um lugar que deveria ser visitado por cada habitante deste planeta. Pelas minhas contas, foi a quarta vez que entrei, mas ainda assim vale a pena para refletir sobre esse acontecimento absurdamente horrível.

Alguns itens expostos são muito, muito chocantes. Desculpem-me se alguém se sentir mal com a foto abaixo, mas acho que é bom para que todos saibam o que significa um ataque nuclear, na prática:

Digamos que ele teve a infelicidade de sobreviver à explosão, para depois ficar neste estado.

Pra mim, o mais natural é sair do museu pensando na capacidade que o ser humano tem de cometer atrocidades como esta.

Bom, mudando de atmosfera um pouco, as fotos abaixo são do lugar onde morei, chamado de Higashi-Hiroshima New Town (quando chegamos, realmente era novo), com pouco mais de 7000 habitantes.


É engraçado como muito pouca coisa mudou. Foi como voltar no tempo.


Domingo, aqui, é igual às cidadezinhas do interior brasileiro, sem quase ninguém na rua.

Esta é o 高美(たかみ)が丘(おか)中学校(ちゅうがっこう), onde estudei por quase 3 anos. Começa a dar sinais de "velhice".

Aqui, passei por poucas e boas... tinha um professor de tênis de dupla personalidade: na aula de estudos sociais, não parava de sorrir, mas era só chegar na quadra que virava um psicopata sádico.

Não guardo muitas lembranças agradáveis deste lugar, pra dizer a verdade. Lembro que um veterano meu levou um tapa na cara e saiu chorando de soluçar... isso tudo porque não fez uma boa partida!

Mas tirando esta parte, foi realmente emocionante revisitar um lugar depois de tanto tempo (12 anos). Muitas lembranças, nem todas boas, mas é o lugar que, de certa forma, moldou o que sou hoje.

Na hora de ir embora, pensei: "Será que vou voltar aqui mais alguma vez?".


P.S. Na volta, digitei um post com conteúdo gramatical, mas devido à falta de conexão wi-fi aqui na Jica, não consegui postá-lo ainda!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Final de semana

Daqui a algumas horas, estarei partindo rumo a Hiroshima, província onde morei dos meus 9 aos 14 anos. Bom, mais precisamente, morei em Higashi-Hiroshima, lugar um pouco afastado da cidade da bomba atômica, e que com certeza irei visitar ainda hoje (sábado) ou amanhã.

Por isso, não irei postar durante o final de semana, mas para mim, acredito que vão ser dois dias bem especiais. Voltar a um lugar depois de bastante tempo sempre provoca fortes emoções, não é mesmo?

Bom, quanto ao blog, sei que tenho postado pouco, e quando posto, tenho dado mais prioridade à questão cultural que ao idioma propriamente dito. Mas isso não tem sido ruim, tem? Afinal, quem nunca esteve aqui tem muita curiosidade a respeito das cidades, dos costumes, das pessoas... certo? (Espero que respondam "sim"!).

Portanto vou deixar então mais três fotos, todas tiradas aqui perto do prédio da JICA Yokohama:

Quem me segue no twitter pode já ter visto esta acima, mas não comentei a respeito dela. Eu estava sentado num gramado que fica em frente à Landmark Tower, e que geralmente é frequentado por muitos casais (ou pretendentes a casal), que passam o tempo admirando a vista.

O curioso é que, mesmo apesar de toda esta beleza proporcionada pela combinação de luzes, alguns deles (dos casais) ficam só na base da troca de olhares, mais ou menos como nas historinhas do Chico Bento. Pois é, nesse departamento, as coisas andam de maneira bem devagar... o que não é necessariamente ruim.


Esta eu tirei há algumas horas. Este barco é um restaurante flutuante.



E a última é o momento... hmm... exibicionista? Ah, quem me conhece sabe que nem de longe eu sou disso, mas fiquei tão contente com essa aquisição que decidi postar!

Detalhe: aqui é possível andar com um negócio chamativo desses na mão, de noite, sem qualquer preocupação. É tão diferente da realidade brasileira que, de vez em quando, me sinto em outra dimensão.

Com certeza esse é um dos aspectos que mais vão deixar saudades... Mas prefiro não pensar nisso no momento.

E enquanto escrevia, percebi que o sol já nasceu (são 4 e meia da manhã). Acho melhor eu tentar dormir... ou não?

terça-feira, 8 de junho de 2010

Onomatopeia e um aspecto cultural

Hmm, eu tenho postado algumas fotos (é, não muitas), mas parece que deixei de lado a parte educativa.

Então decidi falar sobre uma onomatopeia que diz muito sobre um aspecto comportamental tipicamente japonês:


じろじろ

ジロジロ



Tanto faz, em hiragana ou katakana.

Bom, só pela expressão, não dá para se ter a mínima noção do significado, certo? Pois é, então vamos contextualizar:


『何(なに)あの人(ひと)、さっきからずっとこっちをじろじろ(み)てる!』


Ah, ficou um monte de hiragana junto, dificultando a compreensão (eis uma grande utilidade dos kanji!), mas separa-se assim:


さっきからずっとこっち

Agora há pouco/Desde/Continuamente/Aqui, cá


Mas e o principal, como se traduz?

Hmm... na maioria das vezes, é complicado encontrar expressões equivalentes em português (ou qualquer outro idioma, imagino), mas a expressão じろじろ見るexpressa o ato de ficar olhando continuamente para algo (ou alguém), sempre com sentido negativo!

Traduzindo a frase, seria algo como:


"Qual é a daquela pessoa, não pára de olhar pra cá, desde agora há pouco."


Como isso se relaciona com o comportamento japonês?

Muito simples: aqui é considerado incômodo ficar olhando para os olhos de outra pessoa muito intensamente. Claro, dependendo do "teor" do olhar, pode ser incômodo em qualquer lugar do planeta, mas aqui, não precisa ser muito indiscreto para ser considerado inapropriado.

É muito fácil perceber isso na rua, ao cruzar com desconhecidos. No Brasil, tendo interesse ou não, é comum dar uma leve "encarada" em quem vem no sentido oposto; aqui, não. A lógica é bem diferente: mesmo tendo interesse, o normal é não olhar nos olhos de uma pessoa desconhecida na rua.

No trem também é fácil notar que ninguém fica olhando じろじろ para os outros. Lembro que lá por volta de '98, quando eu estudava aqui, li um artigo que abordava esta questão. O autor era japonês mesmo, e falava sobre a situação em que pessoas que não se conhecem se sentam cara a cara nos transportes públicos. O que a maioria costuma fazer, aqui no Japão?

Simples: fingem que estão dormindo, apenas para não se sentirem incomodados com a questão "Onde botar os olhos?".

Pois é, isto é bem curioso, pois é o retrato de uma cultura que preza pela discrição. É bom saber dessas coisas antes de vir para cá, pois uma tentativa de ser educado, olhando fixamente nos olhos da pessoa ao conversar, pode gerar justamente o efeito oposto!

『おはよう!』

Horário: 15:11.

É possível que alguém entre no laboratório, onde estou agora, e me saúde comおはようございま~す!』 . Mas não são 3 da tarde? Sim.

Isso é algo que eu não conhecia, e que achei bastante interessante/estranho. Nos primeiros dias, ouvia isso no meio da tarde e não entendia nada.

"Mas que raios... Será que estão sendo irônicos, pra dizer implicitamente que fulano chegou tarde porque acabou de acordar?", pensava.

Mas logo percebi que não era o caso, pois diziam para o professor também. Aí decidi perguntar para um colega japonês do que se tratava essa saudação "deslocada".

É bem simples: no ambiente de trabalho, pode-se usar 『おはようございます』 em qualquer momento do dia, inclusive à noite, desde que seja o início do expediente.

Por isso que até hoje, aqui no laboratório, não escutei nenhum こんにちは』.

Isso foi algo novo que quebrou o conceito que eu tinha em relação à saudação 『おはよう』. Realmente existem coisas que só se aprendem vivenciando mesmo!

Ah, a saudação para término de expediente costuma serおつかれさまで~す!』.

É isso, esse foi um "post-relâmpago".

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ginza, um lugar diferenciado.

Hoje, gostaria de apresentar algumas fotos do bairro de Ginza, uma das regiões mais valorizadas do mundo.


Há muito o que ser dito sobre Ginza, mas para mim, a imagem mais forte que tenho do lugar é luxo. E não é por menos, já que as principais grifes italianas e francesas estão instaladas na avenida principal, e até as pessoas são mais bem vestidas (o que é muito raro, dependendo da região)!

Seguem algumas fotos:

Esta é da primeira vez que fui, com aquela sensação boa de estar realizando algo que almejava há mais de uma década.

Esta acima é da avenida principal, a 中央(ちゅうおう)(どお). Pelo menos as avenidas possuem nome; não sei se todos sabem, mas aqui as ruas são que nem a música do U2: "where the streets have no name...".

Lojinha básica da Christian Dior. É claro que entrei lá e comprei um óculos de sol de U$3000 e um casaco de U$8000 (ô!).


Apple Store, algo que, a não ser que Steve Jobs mude de ideia, não vai existir no Brasil (ou seja, é bem provável que isso nunca aconteça mesmo).

Ah, dias atrás foi o lançamento do iPad, e a loja estava abarrotada de pessoas querendo mexer no tablet. Ainda existe essa euforia, mas bem mais amena (já que os mais fanáticos já compraram o aparelho).

Um dado curioso: no primeiro final de semana após o lançamento, as lojas da Softbank (uma das operadoras de telefonia móvel daqui) não estava vendendo celulares, para poder dar atenção exclusiva aos compradores do iPad.

Mas o mais interessante de ontem foi um pequeno estabelecimento chamado La Maison Ginza:


Só pelo nome, não é possível saber do que se trata, certo? Mas com o cartão de fidelidade, aí sim:


Sim, é uma loja especializada em doces que têm sorvete Häagen-Dazs como ingrediente principal. Talvez nem todos conheçam esta marca americana (pelo menos em Londrina, sei que muita gente nunca ouviu falar), mas é simplesmente o melhor sorvete que eu conheço.

Assim, esses doces não poderiam ser ruins, obviamente. Eu e minha colega Erika pedimos um que custava ¥1250 (U$1 está mais ou menos¥90), um preço talvez não absurdamente caro, levando em consideração que estávamos em Ginza!

E nem preciso dizer que valeu cada yen pago pelo doce. Até a Erika, que estava meio relutante por causa do preço, saiu de lá dizendo que, no fim das contas, foi até meio barato!

Mas para mim, o que contribuiu - e muito - para que essa experiência tenha sido tão boa, foi o tratamento que recebemos. Parece que eu vou mais uma vez exaltar a forma como os japoneses tratam os clientes, mas acreditem: dessa vez foi diferente.

É óbvio que um lugar requintado como esse, que deve ser frequentemente visitado por muita gente muito rica e até artistas, tem que oferecer um serviço diferenciado. A questão é que, na verdade, eu e a Erika não estávamos vestidos de maneira... digamos... adequada ao ambiente (eu de camiseta, jeans e tênis), já que a visita não foi programada previamente.

Mas o profissionalismo do estabelecimento é tal que, estando vestido bem ou mal, o tratamento que eles oferecem parece ser o mesmo. Sendo mais objetivo, foi basicamente o seguinte: assim que entramos na loja, que fiz questão de fotografar,

fomos saudados com o 「いらっしゃいませ」 obrigatório, e nos sentamos no local de espera. Aguardamos uns 10 minutos e a garçonete, toda sorridente, disse algo como 「お待(ま)たせしましたどうぞこちらへ。」. 「待たせる」 é uma derivação do verbo 「待つ」, e significa "fazer esperar"; a frase seria, portanto, mais ou menos "Perdão por fazê-los esperar. Por favor, venham por aqui".

Como pode ser visto na foto, só há dois andares, mas mesmo assim tem um elevador. Nele, mal cabem duas pessoas, mas o mais interessante mesmo foi que o funcionário posicionado na porta do elevador não apenas nos saudou e apertou o botão; ele fez おじぎ (ato de se curvar) para nós enquanto a porta se fechava, e assim permaneceu enquanto podíamos vê-lo! Eu e a Erika ficamos meio desconcertados com isso... acho que não esperávamos tanto! Até mesmo pros padrões japoneses, foi um tratamento de nível superior.

Na hora de ir embora, foi basicamente a mesma coisa; a garçonete nos conduziu até o elevador e se curvou, até o momento em que não podíamos mais vê-la. Ficamos profundamente admirados com tanto respeito, cortesia e atenção.

No caixa, a moça quis explicar sobre o cartão de fidelidade, mas como ela sabia que éramos estrangeiros (na certa eles se comunicaram e avisaram-na antes), tentou falar em inglês! Quando disse que podia falar em japonês, senti que ela ficou aliviada e um pouco envergonhada, porque me pareceu ter ficado vermelha. Por dentro, admirei o esforço dela de tentar contornar a situação, mesmo sem dominar o inglês!

Bom, e assim foi uma tarde em Ginza. É um lugar muito interessante, que vale a pena conhecer, mesmo que você seja como eu, bolsista metido a rico que gosta de conhecer lugares bons, bonitos e nada baratos! :)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Forma ら + Cenas do metrô de Tóquio

Ok, eu sei que estou devendo alguns posts sobre o idioma em si. Então vai um que digitei no metrô, enquanto ia pro meu curso:


『大人(おとな)なったら一人(ひとり)で世界中(せかいじゅう)を旅行(りょこう)したいです。』

『お金持(かねも)ちになったら一人で世界中を旅行したいです。』



Embora ambas as frases usem a forma ら, possuem sentidos diferentes. Em princípio, esta forma é reconhecida como forma condicional, mas nem sempre!

As duas frases falam sobre planos para o futuro, mas se a primeira diz 大人になったら, ficaria meio estranho traduzi-la como "Se eu ficar adulto", a não ser que a pessoa more em algum lugar cuja expectativa de vida seja de 18 anos.

Hmm, então como ficaria melhor? Não é difícil de deduzir:


"Quando eu ficar adulto"


Já a segunda frase, é a já conhecida forma condicional:


"Se eu ficar rico"

Mas ela também não poderia ser traduzida como "Quando eu ficar rico"?

Claro, mas só o autor da frase fosse alguém como Warren Buffett, que começou a investir em ações aos 11 anos de idade e tinha absoluta certeza de que ficaria rico cedo ou tarde.

De um modo geral, não é difícil distinguir uma forma da outra; se a frase tratar de algo que, salvo casos extremos, só dependam de tempo para acontecer, aí é "Quando", caso contrário, "Se".

Mais exemplos:


『東京(とうきょう)(い)たら、毎日何か違うことがしたい(です)。』


Neste caso, qual dos casos seria?

Bom, ela soa mais como


"Quando eu for pra Tóquio, quero fazer algo diferente todos os dias.".


Para que ela soe como "Se...", uma alternativa seria adicionar いつか, "Algum dia", no início.

Outro caso:


『3時半(さんじはん)なったら休憩(きゅうけい)しましょう。』


Aqui, como é certo que o horário das 3 e meia vai chegar, a tradução seria:


"Quando der 3 e meia, vamos fazer um intervalo."


Já em

『みんな(つか)れていたら休憩しましょう。』,


seria mais para
"Se todos estiverem cansados..."


Detalhe: 疲れていたら é diferente de疲れたら; o primeiro vem de 『疲れています』, "Estar cansado", e疲れます, de "Cansar".

Falando em se cansar, é fácil concluir que tem muita gente cansada nesse país. Enquanto eu digitava, a moça que estava do meu lado mexia no celular (como mais de 90% dos passageiros faz), mas depois de um tempo, guardou-o na bolsa e "apagou".

Até aí é normal, mas depois ela começou a se inclinar pro meu lado, e no momento em que o metrô chegou à última estação, ela estava apoiando a cabeça no meu ombro! Tadinha, deve ter ficado meio sem graça quando se deu conta da situação.

...ou será que ela fez de propósito?

Não, não. Com certeza não. Não no Japão.

Mas com certeza andar de metrô/trem por aqui pode ser bem divertido. Acho que eu tinha me esquecido desse fato.

As fotos abaixo retratam uma realidade bastante comum por aqui:

Não foi essa moça que se apoiou em mim, mas mereceu o clique por estar chamando atenção até pros padrões locais.

Já o senhor abaixo passaria despercebido se não fosse o chapéu fashion:


Pois é!

Ah, a frase que eu usei como exemplo é mais ou menos o que eu havia decidido antes de vir para cá. E até agora consegui ser fiel a esse lema; até agora, não teve sequer um dia que fiquei parado sem fazer algo de interessante.

Isso se chama aproveitar o tempo disponível. :)