quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Linguagem Respeitosa, parte V

Voltando rapidamente ao assunto 敬語・けいご, a linguagem respeitosa, vamos falar da 謙譲語・けんじょうご.

Quem se interessa pela cultura japonesa deve ter percebido que a maneira como as pessoas interagem lá no Japão (queria poder dizer aqui no Japão!), quando comparada à moda brasileira, é totalmente diferente. Isso é facilmente percebido, mesmo sem nunca ter morado ou passeado por lá.

Um dos principais fatores por trás disso é justamente a tal da 謙譲語, a linguagem usada para se rebaixar perante outra pessoa, em sinal de respeito. Não digo se rebaixar no sentido de se humilhar, mas fazer uso de palavras e gestos que exaltem a importância da pessoa com quem interage. Em outras palavras, usar a 謙譲語 consiste em demonstrar humildade, ao mesmo tempo que valoriza os demais. Igualzinho ao Brasil, hã?

Para se ter uma ideia de como esse comportamento se reflete na linguagem, vamos ver um exemplo bem simples:


『中田(なかた)です。広島県(ひろしまけん)から来(き)ました。』



Essa seria uma frase polida, mas padrão. Diz:


"Chamo-me Nakata. Vim da província de Hiroshima."



Dependendo da situação, ela está perfeita! Mas se, por exemplo, for um funcionário da empresa A visitando a empresa B, cabe mais dizer:


『中田と(もう)します。広島県から(まい)りました。』



Sim, 『参ります』é a versão de『来ます』na 謙譲語, e na autoapresentação, o 『です』dá lugar a『申します』.

Fácil?

Talvez esse exemplo, mas saibam que o uso da 謙譲語 é algo bem complicado até mesmo para os próprios japoneses. Junto como 尊敬語・そんけいご, compõe uma espécie de norma de conduta para os 社会人(しゃかいじん)da sociedade nipônica. Isso significa que, para ser respeitado no "mundo de gente grande", é preciso saber respeitar. Nada mais justo, e até óbvio (porém utópico no Brasil).

Outro exemplo bem simples é:


『よろしくお願(ねが)いします。』



『よろしくお願いいたします。』



O verbo 『する・します』『致(いた)す・致します』. Mas não para por aí! Você pode ser ainda mais formal e dizer:


『よろしくお願い申し上(あ)げます。』



Pois é. Vendo assim, o nosso bão e véio português parece ser tão mais simples, não?

Mas... será que é mesmo? Porque afinal de contas, qual será a porcentagem de brasileiros que realmente domina sua língua nativa, e quão mais baixa ela deve ser quando comparada à do Japão?

Hmm... É, eu sei, a comparação não é muito válida, porque o Japão investiu pesadamente em educação, não tem tanta desigualdade social, blá blá blá, mas... Será que só eu acho gritante a quantidade de erros elementares cometidos por pessoas supostamente qualificadas, estudadas, nesse país?

Recentemente, a Globo News cometeu uma gafe épica ao confundir "mas" com "mais". Tudo bem que, com o internetês, esse erro ficou tão comum que não é de se surpreender se em breve decidirem que está certo, mas pô... Globo News!

...certeza que culparam o estagiário!

Bom, esse foi o momento revolta. Pra que serve eu não sei, mas nem tudo precisa ter um propósito, precisa?

...também não sei!

では。

3 comentários:

Claudio disse...

Posso até ser considerado antiquado ou coisa parecida, mas é difícil ler quando a pessoa deturpa o idioma.

E na minha opinião, exceto em caso de extrema distração, não existe desculpas para erros crassos como trocar "mas" com "mais".

B. disse...

Acho interessante essa linguagem respeitosa, mas ela dificulta um pouco o aprendizado. Também pode gerar confusões, caso alguém que não a conheça se dirija de forma inapropriada à outro alguém superior, por exemplo...
Mas acho um exemplo de educacão incrível!

Surgiu uma dúvida:
Um japonês já disse "よろしくお願いいたします" para mim. Posso considerar isso uma "forma de se rebaixar" ou ele estava apenas sendo mais educado?

Obrigado e parabéns pelo blog!

Diogo Kersting disse...

Com certeza foi um estagiário. E outro estagiário revisou.